De acordo com os dados divulgados hoje pelo Banco Central, a taxa de inadimplência das famílias com recursos livres subiu 0,24 ponto percentual, para 4,61%. Tudo isso considerando entre os meses de dezembro de 2021 e janeiro de 2022. O aumento foi significativo para um único mês, dado que no ano passado inteiro a taxa subiu 0,20 ponto percentual.

Inadimplência em queda era prevista

Na avaliação dos economistas da Boa Vista, esse aumento não surpreende. Isso porque a curva de longo prazo do indicador da Boa Vista de Registros de Inadimplentes mostrou forte desaceleração da queda ao longo do último ano e se manteve nessa tendência no primeiro mês de 2022.

Cenário

Além disso, o cenário econômico é bem desafiador para as famílias. A inflação, por exemplo, ainda não cedeu, e os números do IPCA-15 aceleraram de 0,58% para 0,99%. Esse movimento até era esperado, mas o resultado veio acima das projeções. Estas se concentravam em torno de 0,90%, ou seja, mesmo com juros altos, a inflação tende a persistir por um pouco mais de tempo.

Falando em juros, a taxa cobrada das famílias em relação à concessão de recursos livres subiu de 45,02% em dezembro de 2021 para 46,29% em janeiro de 2022. O aumento se deveu à elevação no custo de captação. Ela passou de 10,29% para 10,92%. Já no spread bancário, passou de 34,73 para 35,37 pontos percentuais no mesmo período.

O custo de captação segue alinhado ao ciclo de alta na taxa básica de juros, a Selic. O spread, por exemplo, ao risco operacional, diretamente relacionado à inadimplência.

Mercado de trabalho

Os números do mercado de trabalho continuam nos trazendo informações ambíguas. A taxa de desemprego recuou bem, encerrando 2021 na marca de 11,1%, ante 14,2% em dezembro de 2020. E o número de pessoas empregadas se manteve num nível acima daquele observado antes da pandemia, a renda real está em queda.

A melhora no mercado de trabalho é importante para amenizar o impacto da inflação sobre a renda e dos juros sobre a capacidade das pessoas de manter o orçamento em equilíbrio.

Já a concessão de crédito livre às famílias subiu 1,7% em janeiro na comparação mensal dos dados dessazonalizados. O indicador da Boa Vista de Demanda por Crédito acompanhou de perto esse movimento. Isso porque havia apresentado alta de 1,2% na mesma base de comparação.

Na comparação interanual foram observadas variações muito próximas, o indicador da Boa Vista subiu 22,1% e a concessão 24,8%. Em 12 meses acumulados, o crescimento da concessão acelerou de 20,29% para 23,38%, movimento também antecipado pelo indicador da Boa Vista.

Por fim, as expectativas para 2022 são de aumento na inadimplência, nos juros e na concessão (embora num ritmo inferior ao atual). Mas, em relação à inadimplência, o cenário pode mudar um pouco se a liberação do FGTS, de até R$ 1.000 para cerca de 40 milhões de trabalhadores, seguir adiante.