O volume de vendas no varejo restrito caiu 0,8% entre os meses de junho e julho na comparação dos dados dessazonalizados. Somou-se a terceira queda consecutiva nesta base de comparação, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE.

Os segmentos mais relevantes do varejo restrito disseminaram a queda, com exceção de “Combustíveis e lubrificantes”, que subiu 12,2% no mês. Por outro lado, “Super e hipermercados” caiu 0,8%, “Tecidos, vestuário e calçados”, 17,1% e “Móveis e eletrodomésticos”, 3,0%.

Expectativa

Assim, o resultado veio bem abaixo daquilo que era esperado pelo mercado. Isso porque a mediana das projeções apontava leve avanço de 0,1% nas vendas no período. Vale ressaltar que as projeções variavam de queda de 1,0% a alta de 2,0%.

Já na comparação interanual o varejo caiu 5,2% em julho, contribuindo novamente para desacelerar o resultado do indicador no acumulado do ano. Em 2022, o crescimento desacelerou de 1,4% até junho para 0,4% com os dados de julho. Enquanto no acumulado em 12 meses a queda se acentuou, passando para -1,8%, ante -0,9% até o mês de junho.

Essa queda mais acentuada na análise de longo prazo já era esperada pelos economistas da Boa Vista. Já que o indicador antecedente de Movimento do Comércio havia antecipado essa tendência ao passar de -0,8% em junho para -1,5% em julho. O resultado da comparação interanual também veio alinhado ao indicador da Boa Vista, que havia apontado queda de 4,5% contra julho do ano passado. 

Entretanto, em linha com o que foi observado nos dois últimos meses, desta vez o varejo novamente perdeu espaço na disputa com o setor de serviços. Este captou boa parte do consumo e registrou bom desempenho no mês.

Em julho, o alívio da inflação e a melhora no mercado de trabalho não foram suficientes para segurar a queda no setor. Apenas o grupo de “Combustíveis e lubrificantes” se beneficiou das quedas nos preços. Justamente pelo efeito da PEC dos Combustíveis, que tem aliviado a pressão inflacionária no segmento. 

E apesar da renda dos trabalhadores ter voltado a subir gradualmente, junto com o aumento da população ocupada, esse movimento ainda não surtiu o efeito desejado sobre o comércio varejista. Os elevados níveis de preços e juros continuam mantendo os consumidores cautelosos e gerando obstáculos à retomada do setor.

Recuperação

Diante deste cenário, uma recuperação está condicionada a continuidade da melhora no mercado de trabalho e queda no preço dos itens de consumo de primeira necessidade, como de ‘Super e hipermercados’, que ainda não tem ocorrido, mesmo com o aperto da política monetária.

Dessa forma, a despeito deste cenário pouco amistoso, o varejo ainda pode reverter a queda do resultado acumulado em 12 meses. Dado que a base de comparação não é muito forte, lembrando que a PMC apontou queda de 3,0% no volume de vendas entre o 2º semestre de 2020 e o 2º semestre de 2021.

“Além disso, a combinação entre redução da inflação, aumento no nível de emprego e os auxílios do governo podem dar mais fôlego para o setor nesta segunda metade do ano. Período que também conta com datas comemorativas importantes para o varejo e que terá, em novembro, uma movimentação extra em decorrência da Copa do Mundo.

Por fim, são fatores pontuais para o comércio varejista em um primeiro momento, mas que podem alavancar as vendas em tempos de maiores dificuldades”, diz o economista da Boa Vista, Flávio Calife.