Números divulgados hoje pelo Banco Central indicam que a taxa de inadimplência das famílias com recursos livres encerrou o ano de 2021 em 4,37%, 0,1 ponto percentual acima do nível observado em novembro, e 0,21 ponto percentual acima do nível observado em dezembro de 2020.

Na avaliação dos economistas da Boa Vista, a elevação da inadimplência ao longo do último ano já era esperada, dado que o cenário econômico não era um dos mais favoráveis. A inflação elevada pesou sobre o orçamento das famílias em diversas frentes, da conta de luz a itens básicos como alimentos e bebidas, e o aumento na taxa de juros também dificultou o processo de recuperação de crédito.

Ainda que o efeito dos juros sobre a inflação não seja tão nítido, os índices de inflação tendem a desacelerar agora, como já fora percebido no IGP-M, também divulgado hoje pelo Ibre, ainda que este não seja o índice de inflação oficial.

Vale ressaltar que a inadimplência das famílias ainda se encontra em níveis historicamente baixos devido às postergações e aos auxílios do governo durante a pandemia. Por sinal, em 2021 esses auxílios foram menos substantivos e de menor alcance, algo que também contribuiu para elevar a inadimplência.

No mais, essa elevação foi percebida por meio da forte desaceleração da queda no indicador de Registros de Inadimplentes da Boa Vista, bem como pelo fato de que ao longo de 2021 foram verificadas 11 altas na comparação mensal dos dados dessazonalizados.

No ano passado a taxa de juros subiu de 7,92 pontos percentuais e fechou o ano num patamar de 45,12%. A maior parcela desse aumento veio do custo de captação de recursos, que subiu 5,20 pontos percentuais ao longo do último ano, em linha com o aumento da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 2,00% para 9,25% no mesmo período.

O spread, por sua vez, apresentou uma elevação um pouco mais tímida, de 2,72 pontos percentuais, mas andou de mãos dadas com a taxa de inadimplência.

Já a concessão de crédito livre às famílias apresentou mais uma forte alta na comparação interanual, de 16,72%, encerrando o ano de 2021 com uma alta de 20,16% em comparação ao ano de 2020. Tais variações foram acompanhadas de perto pelo indicador de Demanda por Crédito da Boa Vista, que registrou alta de 13,2% em dezembro na comparação interanual e de 18,1% na variação acumulada em 12 meses.

Contudo, requer atenção a queda de 9,9% entre os meses de novembro e dezembro na série de dados dessazonalizados do Banco Central, algo que pode antecipar uma desaceleração da concessão para 2022.

Inadimplência

Para 2022, a tendência é de que a inadimplência continue em elevação, de forma gradual, por conta de um cenário ainda bem desafiador para os consumidores, com renda em queda e alto endividamento. As taxas de juros finais também tendem a se elevar, dado que é esperado um aumento na taxa Selic e nos spreads, que tendem a aumentar junto com a inadimplência.

A concessão de crédito, por sua vez, também deve subir, mas num ritmo menor que o atual, dada a menor capacidade esperada para o consumo.