Por Yan Nonato Cattani, da área de Indicadores Econômicos da Boa Vista SCPC, e colaboração de Bruno Sambrana Marques Soares.

Na última quarta-feira, dia 30, a Boa Vista SCPC divulgou estudo sobre o impacto da Copa do mundo no comércio brasileiro, com cobertura exclusiva realizada pelo jornal Valor Econômico. Outras importantes instituições foram consultadas, corroborando os resultados obtidos pelo estudo.

Na notícia contemplaram-se quatro indicadores que mediram os efeitos de inadimplência, demanda por crédito e atividade do comércio. O período compreendido é desde o dia 12 de junho até o término do evento, em 13 de julho. Como base de comparação, as datas escolhidas foram o período análogo em 2013 e os 31 últimos dias anteriores ao início do torneio.

A Boa Vista SCPC informa que seus indicadores são todos de acesso gratuito para o público, sendo fonte de referência para análises de crédito e atividade do comércio, veiculados periodicamente nos principais veículos de comunicação do Brasil.

A notícia na integra encontra-se abaixo:

 

Copa reduz apetite por empréstimo, Valor Econômico (impresso), dia 30/07/2014

A queda no consumo durante a Copa do Mundo teve como reflexo uma menor procura por crédito em algumas linhas, ao mesmo tempo em que o número reduzido de dias úteis fez com que os atrasos de curto prazo no pagamento das dívidas aumentasse. Em um ano em que os empréstimos - em especial para pessoa física - têm perdido fôlego, fica a dúvida sobre quanto dessa perda os bancos conseguirão recompor. Divulgados ontem, os dados do Banco Central (BC) mostram que o "efeito Copa" foi pontual em algumas linhas de financiamento.

Levantamento feito pela Boa Vista Serviços, a pedido do Valor, tenta mensurar o tombo do crédito no período do Mundial, que começou em 12 de junho e durou um mês. Nesse intervalo, segundo a Boa Vista, a demanda por crédito caiu 4,3%, na comparação com igual período de 2013. No primeiro semestre como um todo, a demanda recuou 2,5%. A Boa Vista calcula essa variação da demanda usando o número de consultas à sua base de CPFs, que reúne os consumidores que deixaram de pagar as dívidas.

Os registros de inadimplentes na base de dados da Boa Vista caíram 8,6% e a recuperação de devedores também encolheu 14,4%, na comparação com o mesmo período de 2013. No acumulado do semestre, os registros cresceram 2,8% e a recuperação caiu 2%.

"A expectativa que tínhamos era que o recuo poderia ter sido maior. Houve uma queda, mas foi muito em linha com o que já acontece quando há poucos dias úteis", afirma o economista da Boa Vista, Flávio Calife. Para ele, a queda nos registros de inadimplentes se explica pela possibilidade de os bancos adiarem o envio de nomes dos inadimplentes ao birô, na expectativa de que os clientes acertassem os compromissos após o Mundial.

Em relatório, analistas do Credit Suisse também afirmaram esperar um efeito maior da Copa sobre os números de crédito em junho. "O menor número de dias úteis não parece ter causado um impacto preponderante sobre as originações no mês, contrário às nossas expectativas", disse o banco suíço.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, afirmou, em entrevista coletiva, que um possível impacto do menor acesso da população às agências bancárias pode ser visto no crédito direcionado como um todo e nos financiamentos do BNDES, que apresentaram em junho ritmo de concessão um pouco mais lento.

Os bancos, no entanto, relatam efeitos um pouco mais acentuados do menor número de dias úteis, em especial em linhas de crédito para pessoa física que não são pré-aprovadas. Modalidades como o crédito consignado e o financiamento de imóveis estariam entre as mais afetadas.

Foi o caso do Banco do Brasil (BB), que viu a produção de crédito à pessoa física cair 50% em dias de jogos em relação ao que seria a média do período, afirma Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do banco público, em entrevista anterior ao período de silêncio do BB. "Julho já é um mês em que normalmente temos uma queda no volume, já que é quando há liberação de uma parcela do 13º salário", diz. "Em termos de inadimplência ou pontualidade de pagamentos, não houve nada de muito relevante causado pela Copa", diz.

Segundo o executivo da área de consignado de um grande banco de varejo, em maio os bancos liberaram R$ 2 bilhões em crédito com desconto em folha para aposentados e pensionistas do INSS. Em junho, esse desembolso caiu para R$ 1,6 bilhão. "Em julho, caminhamos para repetir junho", conta.

De acordo com o BC, em junho foram desembolsados R$ 33,1 bilhões em empréstimos com recursos livres não rotativos, ou seja, que não foram pré-aprovados. Em um mês de 21 dias úteis - sem contar a dezena de feriados municipais em sedes da Copa -, o número indica um desembolso diário de R$ 1,6 bilhão, cifra 2,2% menor que no mesmo mês de 2013.

A Recovery do Brasil, empresa especializada em cobrança que tem participação do BTG Pactual, afirma que junho e julho foram meses muito ruins para cobrar devedores. "Não bastasse a Copa, São Paulo teve em junho a greve do transporte público", afirma André Calabró, diretor de gestão da Recovery. Ele explica que, com a paralisação, a principal mão de obra da cobrança - os funcionários de "call centers" - não conseguiu chegar ao trabalho. "Foram alguns dos piores meses de cobrança da nossa história", diz.

O financiamento habitacional também foi afetado pelo marasmo trazido pelo torneio. Na semana passada, quando apresentou o balanço semestral da modalidade, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário (Abecip) apontou a Copa como causa do fraco desempenho de junho.

No mês, foram desembolsados R$ 9 bilhões em financiamento imobiliário, com queda de 19% em relação ao mesmo mês do ano passado. O financiamento de imóveis usados, mais dependente dos corretores imobiliários, foi o principal afetado. Segundo o presidente da Abecip, Octávio de Lazari Junior, julho também apresentou desempenho semelhante. "Mesmo com o fim da Copa, a recuperação não veio logo em seguida", disse.