Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

A forte deflação de 2,9% em julho dos preços chineses em nível de fábrica (correspondente ao atacado no Brasil) confirma a desaceleração em curso naquele país, cujo vigor de demanda é vital para manter o ritmo da economia exportadora brasileira, única fonte do nosso dinamismo interno. A deflação no atacado chinês corresponde a uma inflação menor ao nível do consumidor, cujo índice foi de apenas 1,8% sobre 12 meses anteriores, a menor marca em 30 meses. As curvas de preços, tanto ao consumidor como no atacado, fazem um arco de queda semelhante ao de 2009, ensejando especulações do mercado de que o governo chinês agirá para reativar a demanda. Os aplicadores mundiais vivem hoje à base de rumores em torno de ações compensatórias de governos para a debilidade econômica geral.

A análise mais detalhada do quadro de indicadores chineses aponta, entretanto, para uma realidade distinta. A economia da China ainda vive os estertores da última aceleração de crédito em 2009. O PIB deste ano crescerá 7%. A produção industrial chinesa ainda voa a 9,2% ao ano, embora desacelerando gradualmente. As vendas de varejo ainda explodem a 13%. Nenhum desses indicadores é sustentável com o mundo ocidental em recessão. Portanto, o desaquecimento chinês é inevitável, com ou sem novo pacote de afrouxamento monetário. Para o Brasil, tal desaceleração se lê como recuo da demanda por nossos bens exportáveis e aumento da pressão dos bens importáveis sobre o combalido parque industrial local. Diante de tal nível de pressão, as medidas do governo Dilma para recompor o ânimo produtivo interno conseguirão apenas evitar a piora dos atuais indicadores cadentes do PIB.

Ed.04