De acordo com os dados do Banco Central, a taxa de inadimplência avançou mais uma vez assim como no mês de julho, e agora marca 4,15% quando se trata de recursos livres emprestados às famílias. A alta veio no mesmo sentido apurado pelo indicador de Registros de Inadimplentes da Boa Vista, que havia apontado alta de 3,3% na comparação mensal dos dados dessazonalizados no mesmo período.
O aumento na inadimplência teve efeito, também, sobre o spread bancário, que após três quedas consecutivas voltou a subir, ainda que pouco, passando de 32,26 para 32,33 pontos percentuais. Assim como nos meses anteriores, foram os custos de captação que pressionaram a taxa de juros para cima. Desta vez, porém, numa magnitude maior. Entre os meses de julho e agosto, o custo de captação subiu de 7,56% para 8,52%, acompanhando – ou antecipando – de perto as expectativas relacionadas à taxa Selic ao final do ano, que atualmente apontam uma taxa de 8,25% ao ano. Antes disso, por exemplo, de março a julho os custos de captação haviam variado apenas 0,34 pontos percentuais. No final das contas, a taxa de juros final do crédito livre às famílias atingiu 40,85%.
O aumento da inadimplência e da taxa de juros não freou a concessão de crédito, ao menos até aqui. A concessão de recursos livres às famílias registou aumento de 28,5% na comparação interanual, em linha com o resultado apresentado pelo indicador de Demanda por Crédito da Boa Vista, que havia mostrado alta de 24,2% na mesma base de comparação para o segmento Financeiro. Em 12 meses acumulados, a curva de ambos está muito próxima: os dados do Banco Central apontam elevação de 14,08% e os da Boa Vista de 14,05%.
Na avaliação dos economistas da Boa Vista, a inadimplência deve permanecer nessa tendência de alta daqui para frente, uma vez que alguns dos principais fatores condicionantes dela ainda estão deteriorados, sobretudo, quando se trata do mercado de trabalho. Não apenas os dados mais recentes apontam para uma melhora frágil, como também as curvas de rendimento estão apontando para baixo. Outro ponto que merece destaque é a proximidade do fim do auxílio emergencial, com a última parcela sendo prevista para o mês de outubro. Os auxílios, tanto o primeiro programa quanto o segundo, ajudaram a segurar as contas num momento em que sobretudo a inflação pesava sobre o orçamento das famílias. O auxílio vai embora, a inflação não.
Já em relação à demanda por crédito, existe uma preocupação dela pressionar o comprometimento da renda para cima, dado que neste momento os juros não irão ceder e, mesmo os prazos médios de concessão, estão caindo. Somados todos esses fatores, parece difícil manter a taxa de inadimplência nos patamares atuais, ainda mais considerando que o cenário econômico projetado para 2022 é de menor crescimento, com juros altos e inflação ainda elevada.