De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o volume de vendas no varejo restrito caiu 3,1% no mês de agosto na comparação mensal dos dados dessazonalizados. O resultado veio aquém das expectativas do mercado, que apontavam um crescimento de 0,6% no período, assim como o indicador antecedente de Movimento do Comércio da Boa Vista, que havia apresentado ligeira alta de 0,2% na mesma base de comparação. Dentre os destaques, as vendas foram puxadas para baixo pelos segmentos de “Outros artigos de uso pessoal e doméstico”, “Combustíveis e lubrificantes” e “Super e hipermercados”, que operaram em queda de 16,0%, 2,4% e 1,0%, respectivamente. O segmento de “Tecidos, vestuário e calçados”, por outro lado, andou no sentido oposto e subiu 1,1% no período. Na comparação interanual foi observada queda de 4,1%, o que “contribuiu” para desacelerar os resultados acumulados. Na análise de longo prazo, medida pela variação acumulada em 12 meses, crescimento passou de 5,9% para 5,0%.
Na avaliação dos economistas da Boa Vista, os resultados mais recentes refletem um pouco melhor o cenário para o varejo, tendo em vista, sobretudo, que a “melhora” em alguns números é meramente superficial e que outros só pioraram desde o início do ano.
De acordo com os dados da PNAD, apurados pelo IBGE, a taxa de desempregou recuou um ponto percentual entre os meses de abril e julho, passando de 14,7% para 13,7%. No mesmo período, porém, a taxa de informalidade subiu na mesma magnitude, atingindo 40,8% da população ocupada e o número de pessoas subocupadas bateu novo recorde, chegando a mais de 7,7 milhões de pessoas.
Além disso, na variação acumulada em 12 meses, a curva de rendimento médio habitual está em franca desaceleração desde o mês de fevereiro e aponta agora crescimento de 1,0%, ante 4,7% naquele período. A curva de rendimento médio efetivo, por sua vez, já há algum tempo apresentava queda na mesma base de comparação. Em julho, de 0,5%.
Outro dado preocupante, não apenas ao varejo, refere-se à inflação. Não à toa, a projeção em relação ao IPCA subiu pela 26ª vez na última semana e já marca 8,51% ao final de 2021. Além disso, não se pode deixar de lado os dados referentes ao mercado de crédito. Diante deste quadro inflacionário, o ciclo de alta na taxa de juros pode se prolongar. Para 2021 ainda são previstos dois novos aumentos de um ponto percentual na taxa básica de juros, Selic, de 6,25% para 8,25%, em linha com o ritmo de aperto monetário proposto pelo Copom.
Crédito mais caro, inflação e mercado de trabalho ainda fragilizado: esse tripé, por si só, já seria suficiente para sugerir, no mínimo, uma acomodação do varejo, bem como vendas em períodos festivos abaixo do esperado. Soma-se a isso o fato da renda estar em queda e já muito comprometida. Diferente do que vimos no ano passado, o varejo não deverá surpreender positivamente este ano.