As concessões de crédito com recursos livres para pessoas físicas, que tiveram um papel importante para a aceleração das vendas do varejo em julho, mantiveram o ritmo de crescimento em agosto, de acordo com dados do Banco Central deflacionados pela Boa Vista. Este é um dos destaques dos economistas da empresa em sua análise das estatísticas de crédito de agosto, divulgadas nesta quarta-feira (25).
Após alta de 8,6% em julho, as concessões com recursos livres deflacionadas e acumuladas em 12 meses registraram expansão de 8,5% em agosto. Já as concessões para pessoas jurídicas seguem trajetória de desaceleração. Em 12 meses até agosto, elas registraram crescimento de 7,2% em relação aos 12 meses anteriores.
Os empréstimos com recursos livres para pessoas físicas continuam sendo puxados pelas modalidades com juros menores, especialmente pelo consignado, cujas concessões (não deflacionadas) cresceram 29,8% em 12 meses e mantêm trajetória de aceleração. As concessões na modalidade cartão de crédito com juros, por outro lado, cresceram 12,3% na mesma base de comparação.
A inadimplência das operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas, por sua vez, segue relativamente estável, alcançando 4,9% em agosto, contra 4,8% em julho e 5% em agosto do ano passado.
Em resumo, portanto, nota-se crescimento saudável dos empréstimos para os consumidores, em modalidades com juros menores e inadimplência sob controle.
Para os economistas da Boa Vista, o cenário de crédito segue, de fato, favorável e tende a colaborar para o desempenho das vendas do varejo até o final do ano.
Eles voltam, contudo, a chamar atenção para a tendência de crescimento do endividamento e do comprometimento da renda, que pode limitar o ciclo atual de expansão do crédito.
O endividamento, desconsiderando o crédito imobiliário, passou de 23,6% em julho de 2018 para 25,6% em junho e 25,7% em julho de 2019. Já o comprometimento de renda passou de 17,6% em julho do ano passado para 18,2% em junho e 18,3% em julho deste ano, na série livre de influências sazonais.
Os indicadores, porém, ainda estão em níveis muito inferiores aos observados até 2016. Em julho daquele ano, por exemplo, o comprometimento da renda estava em 19,7%.
“Embora ainda abaixo do nível de 2016, um maior comprometimento de renda preocupa, especialmente diante da atual situação do mercado de trabalho”. De acordo com os economistas, não só a recuperação do emprego é muito lenta, como as vagas criadas são, de maneira geral, precárias, informais e por conta própria.
Este novo perfil da ocupação parece ajudar a explicar também, ao menos em parte, a dinâmica do crédito para pessoas jurídicas, puxado pelos empréstimos para Micro, Pequenas e Médias empresas (MPMe), cuja carteira cresceu 8,5% em agosto, contra queda de 5,9% no caso das Grandes empresas.
“Trata-se de um segmento ainda carente de crédito, com enorme potencial, portanto, mas cuja inadimplência, atualmente, ainda é mais de três vezes superior à das grandes empresas” [4,64% contra 1,36% em agosto], concluem os economistas.