Um dos destaques dos economistas da Boa Vista em sua análise das estatísticas de crédito de maio, divulgada nesta quarta-feira (26) pelo Banco Central, foi o fato de que o saldo das operações dos bancos privados superou a dos públicos pela primeira vez desde junho de 2013.
Enquanto o saldo das operações de crédito de instituições financeiras sob controle público atingiu R$ 1.643,003 bilhões, o saldo das instituições privadas (nacionais e estrangeiras) chegou a R$ 1.643,565 bilhões.
“O saldo das operações de crédito como proporção do PIB segue relativamente estável nos últimos dois anos. O que está em curso é uma mudança de perfil, com os bancos privados retomando o protagonismo”, analisam os economistas da Boa Vista.
A carteira dos bancos públicos, que chegou a representar 30,2% do PIB em janeiro de 2016, caiu para 23,6% em maio deste ano, o menor patamar desde aquele janeiro. Já a participação dos bancos privados atingiu 23,6%, a maior nível desde dezembro de 2015.
“Para reduzir o impacto da crise internacional na economia do país, a partir de 2008 foi observada uma significativa expansão do crédito público, que ganhou força principalmente a partir do primeiro governo Dilma, quando os bancos estatais passaram a ser utilizados também para pressionar para baixo as taxas de juros do mercado.
“Em junho de 2013, a participação dos bancos públicos voltou a superar a dos privados, algo que não era observado desde julho de 2000. Esse movimento de expansão das instituições estatais durou até o início de 2016.
“De lá para cá, ela recuou para cerca de 47% em meados de 2017, patamar em que vem se mantendo desde então. A nova crise fiscal enfrentada pelo país levou à reorientação da política econômica, com diminuição da participação dos bancos públicos no mercado de crédito”, explicam os economistas da Boa Vista.
A diminuição do crédito público se dá principalmente pela redução do crédito com recursos direcionados, especialmente via BNDES. Os bancos públicos comerciais, por sua vez, vêm buscando melhorar sua rentabilidade.
No primeiro trimestre de 2019, em relação ao mesmo período de 2018, Banco do Brasil e Caixa registraram aumento do lucro superior ao de bancos privados como Santander e Itaú (45,7% e 22,9%, respectivamente, contra alta de 30,9% do Bradesco, 21,1% do Santander e 6,8% do Itaú).
Ao mesmo tempo, o saldo das operações de crédito da Caixa recuou 2% no período, contra alta de apenas 0,8% do Banco do Brasil, bastante inferior aos aumentos de 12,7%, 9,3% e 7,5% das carteiras de crédito de Bradesco, Santander e Itaú, respectivamente.
Na análise das estatísticas do Banco Central, os economistas alertam ainda para o aumento do risco de crescimento da inadimplência diante da frustração com a retomada da economia em 2019. “Os empréstimos para pessoas jurídicas vêm crescendo mais no segmento de micro, pequenas e médias empresas, de maior risco. O endividamento das famílias, por sua vez, segue sua trajetória de alta [alcançou 43,6% em abril, contra 41,6% em abril do ano passado]. Diante do fraco crescimento da renda, cresce a probabilidade de que o crescimento dos empréstimos para pessoas físicas nos últimos anos resulte em maior inadimplência”, concluem.