Um dos destaques dos economistas da Boa Vista em sua análise das estatísticas de crédito de março, divulgada nesta sexta-feira (26) pelo Banco Central, foi a redução da diferença entre os saldos das operações dos bancos públicos e privados.
Enquanto o saldo das operações de crédito de instituições financeiras sob controle público caiu pelo 31º mês seguido (estão em queda desde set/16), para R$ 1,647 trilhões, o saldo das instituições privadas (nacionais e estrangeiras) voltou a subir em março e atingiu R$ 1,619 trilhões.
“O saldo das operações de crédito como proporção do PIB segue relativamente estável nos últimos dois anos. O que está em curso é uma mudança de perfil, com os bancos privados retomando o protagonismo”, analisam os economistas da Boa Vista, para quem, a se manter esse ritmo, o crédito privado deve superar o público em um ou dois meses.
A carteira dos bancos públicos, que chegou a representar 30,2% do PIB em janeiro de 2016, caiu para 23,8% em março deste ano, o menor patamar desde aquele janeiro. Já a participação dos bancos privados atingiu 23,4%, a maior nível desde dezembro de 2015.
Com isso, a diferença de participação entre públicos e privados (de 0,4 pontos percentuais em março) atingiu o menor patamar desde junho de 2013, mês em que a participação dos bancos públicos havia superado a dos privados.
“Para reduzir o impacto da crise internacional na economia do país, a partir de 2008 foi observada uma significativa expansão do crédito público, que ganhou força principalmente a partir do primeiro governo Dilma, quando os bancos estatais passaram a ser utilizados também para pressionar para baixo as taxas de juros do mercado.
“Em junho de 2013, a participação dos bancos públicos voltou a superar a dos privados, algo que não era observado desde julho de 2000. Esse movimento de expansão das instituições estatais durou até o início de 2016.
“De lá para cá, ela recuou para cerca de 47% em meados de 2017, patamar em que vem se mantendo desde então. A nova crise fiscal enfrentada pelo país levou à reorientação da política econômica, com diminuição da participação dos bancos públicos no mercado de crédito”, explicam os economistas da Boa Vista.
A diminuição do crédito público se dá principalmente pela redução do crédito com recursos direcionados, especialmente via BNDES.
Para a equipe econômica da Boa Vista, o avanço nas reformas microeconômicas mostra-se o principal caminho para uma retomada mais vigorosa dos empréstimos ante o fraco desempenho da economia. Entre as reformas, eles citam a inclusão automática no Cadastro Positivo, já sancionada, e a implementação do Open Banking, iniciada pelo Banco Central.