O avanço da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados tende a afetar positivamente os principais indicadores do mercado financeiro. “Os juros futuros já recuaram bastante, por exemplo, o que tende a baratear o crédito”, explicam os economistas da Boa Vista.
Mas isto tende a impulsionar o consumo?
“Em tese, sim. O problema, contudo, é que a situação favorável do mercado de crédito não tem sido suficiente para sequer sustentar o ritmo de crescimento das vendas do varejo, em desaceleração”, ponderam os economistas em sua análise da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de maio, divulgada nesta quinta-feira (11) pelo IBGE.
Em maio, as vendas do varejo restrito ficaram praticamente estáveis em relação a abril (-0,1%), na série com ajuste sazonal. Em abril, o indicador havia recuado 0,4%.
Na comparação com maio de 2018, as vendas subiram apenas 1%. Com isto, elas acumulam alta de 0,7% no ano e 1,3% em 12 meses.
O varejo ampliado subiu 0,2% no mês, e acumula alta de 3,3% no ano e 3,8% em 12 meses.
Para os economistas da Boa Vista, o mercado de crédito favorável, com taxas de juros e inadimplência dos consumidores historicamente baixas, sozinho, não tem sido suficiente para compensar o fraco crescimento da renda e o elevado nível de desocupação e subutilização da mão de obra.
Além disso, o endividamento em alta também compromete uma retomada mais acelerada dos empréstimos. “O fraco crescimento da renda limita a capacidade de endividamento, o que compromete as vendas em segmentos mais dependentes do crédito”, explicam.
As vendas de veículos, que vinham crescendo de forma significativa, sustentadas pelo crédito, caíram 2,1% em maio, após queda de 0,3% em abril.
No setor de vestuário e calçados, as vendas acumulam queda de 0,3% em 12 meses. Também o segmento de móveis e eletrodomésticos registra queda das vendas nesta base de comparação (-1,5%).
“Nem as datas comemorativas vêm sendo capazes de alavancar as vendas”, comentam, citando o dado da Boa Vista segundo o qual as vendas para o Dia das Mães (maio) e para o Dia dos Namorados (junho) teriam crescido 1,7% e 1,4%, respectivamente, menos do que em 2018 (4% e 2,2%, respectivamente).
Os economistas pontuam, porém, que o avanço da Previdência pode ter impactos positivos na confiança, favorecendo a tomada de empréstimos. O recuo dos preços dos alimentos também tende a continuar impulsionando o setor de supermercados, cujas vendas subiram 0,6% entre abril e maio. O frio, por sua vez, deve estar colaborando para as vendas do setor de vestuário.
“O endividamento e o mercado de trabalho, no entanto, ainda seguem como obstáculos para uma retomada vigorosa das vendas do varejo”, concluem os economistas, para quem os efeitos da reforma nos juros e na confiança ainda não devem ter impactos significativos no consumo nos próximos meses.