A diminuição da confiança, o lento crescimento da renda e o elevado nível de desocupação e subutilização da mão de obra são os principais fatores por trás do fraco desempenho das vendas do varejo neste ano, de acordo com os economistas da Boa Vista em sua análise dos números da Pesquisa Mensal do Comércio – PMC de abril, divulgada no dia 12 de junho, pelo IBGE.
Eles explicam que são basicamente quatro as variáveis econômicas que influenciam as vendas do comércio: confiança, emprego, renda e condições de financiamento (oferta de crédito, juros e prazos). Destas, apenas as relacionadas ao crédito ainda jogam a favor da expansão das vendas.
“No entanto, o mercado de crédito favorável, com taxas de juros e inadimplência dos consumidores historicamente baixas, sozinho, não tem sido suficiente para compensar a lenta recuperação do mercado de trabalho e as incertezas que ainda pairam no cenário econômico”, argumentam.
“Após o fim do impulso da liberação dos recursos do FGTS em 2017, setores como os de vestuário, móveis e eletrodomésticos, principalmente, perderam fôlego. Até há crédito, os juros estão mais baixos, mas a insegurança a respeito do futuro ainda é alta, o que leva os consumidores a adiarem o consumo e evitarem o endividamento”, analisa a equipe econômica da Boa Vista.
Não é à toa que o governo já cogita nova liberação de recursos do FGTS para tentar impulsionar o consumo, que responde por mais de 60% do PIB.
“É uma medida interessante, que foi relevante para alavancar a economia em 2017”, avaliam os economistas, para quem a medida não somente traria um impulso às vendas, como ajudaria as famílias endividadas.
“O endividamento das famílias como proporção da renda já vem crescendo, acompanhando o crescimento das concessões em modalidades como empréstimo para aquisição de veículos, crédito pessoal e consignado, principalmente. A capacidade de endividamento, contudo, segue muito limitada pelo fraco crescimento da renda e pela fragilidade do mercado de trabalho, de maneira geral”, analisam.
“Além disto, conforme mostra o indicador de recuperação de crédito da Boa Vista, em queda quando considerada a variação acumulada em 12 meses, as famílias inadimplentes estão com dificuldade para regularizar sua situação financeira. A liberação do FGTS, assim, poderia representar um alívio”.
Mesmo as vendas de veículos, que têm sustentado o crescimento do varejo ampliado, também já dão sinais claros de enfraquecimento, agravando, com isto, o quadro do comércio.
“O setor de veículos foi um dos que mais sofreu com a recessão. A frota envelheceu e o que vemos desde 2018 é um processo de renovação da frota, movimento favorecido pela redução dos juros e aumento das concessões de crédito para o segmento.
Também a recuperação da venda de carros, contudo, é limitada pela queda da confiança e pela baixa capacidade de endividamento. As concessões de crédito para aquisição de veículos, por exemplo, vêm mostrando desaceleração, o que parece já ter impacto nas vendas do segmento”, concluem os economistas (ver gráfico abaixo).
Fonte: Banco Central, IBGE