As estatísticas de crédito de fevereiro, divulgadas hoje pelo Banco Central, não alteram o diagnóstico que vem sendo apontado pela equipe econômica da Boa Vista em suas análises: inadimplência relativamente estável na margem, próxima aos menores patamares da série histórica, e retomada das concessões.
Nos primeiros meses de 2019, merece destaque, em particular, a retomada do crescimento da carteira de crédito total para as empresas, que registrou queda de meados de 2016 até o final de 2018. Após recuo de 0,9% em outubro, ela ficou estável em novembro e cresceu 1,3% em dezembro, 1% em janeiro e 1,4% em fevereiro – sempre na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Ainda que tímida, é verdade, a expansão da carteira de crédito total para as pessoas jurídicas vem sendo puxada pelo setor de serviços, quando é considerada a segmentação por atividade econômica, e pelo segmento de micro, pequenas e médias empresas (MPMe), quando se faz a análise por porte.
“A demanda por crédito está bastante associada à situação financeira do setor. Ainda que a retomada da economia, de maneira geral, esteja ocorrendo a um ritmo aquém do desejado, com sinais cada vez mais evidentes de desaceleração, há forte discrepância entre os diversos segmentos de atividade. No comércio, por exemplo, a expansão das vendas, ainda que lenta, somada ao surgimento de novas soluções de crédito, tem viabilizado o aumento das operações para o segmento. Na indústria, por outro lado, onde os sinais de desaceleração são mais evidentes e ainda existe muita capacidade ociosa, a carteira de crédito registra recuo”, argumentam os economistas.
De fato, de acordo com dados de fevereiro de 2019 do Banco Central, a carteira de crédito das operações para o setor industrial recuou 3,4% em fevereiro de 2019 na comparação com o mesmo mês de 2018. No setor de serviços, por sua vez, foi registrado crescimento de 6,9% no mesmo período, sendo que no comércio – a maior carteira dentro do segmento de serviços –, a alta foi de 5,5%. A modalidade de antecipação de faturas de cartão, por exemplo, muito comum no comércio, cresceu 35,6% em um ano.
Dentro do próprio comércio, por sua vez, também são observadas discrepâncias. Enquanto a carteira do comércio varejista cresceu apenas 3,6%, a do setor atacadista aumentou 7,4%, o que parece associado ao desempenho dos setores. “No varejo alimentício, por exemplo, os chamados ‘atacarejos’ vêm registrando crescimento muito superior ao dos supermercados”, exemplifica a equipe econômica da Boa Vista.
Na análise por porte, pelo segundo mês consecutivo as operações para MPMe crescem a um ritmo superior ao das grandes empresas. Em fevereiro, o saldo das operações para MPMe subiu 3,7% na comparação com fevereiro de 2018, contra alta de apenas 0,2% do saldo das grandes empresas.
“A oferta de crédito para o segmento de MPMe ficou muita mais restrita durante a crise, já que a inadimplência no segmento é maior. Passado o pior momento da crise, o cenário para o segmento melhorou. Além disso, a maior parte dos pequenos negócios se concentram no setor de serviços”, concluem os economistas da Boa Vista.