De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o volume de vendas no varejo restrito caiu 1,7% no mês de junho na comparação mensal dos dados dessazonalizados. O resultado veio na contramão das expectativas de mercado, que apostava num crescimento de 0,7% no período. Dentre os destaques, foi observada queda de 3,6% no segmento de “Tecidos, vestuário e calçados” e de 1,2% no segmento de “Combustíveis e lubrificantes”. O segmento de “Super e hipermercados” também operou em baixa, de 0,5%. Na comparação entre o 2º trimestre de 2021 e o mesmo período do ano anterior, o crescimento foi expressivo, de 14,7%, dado que, naquele período, as vendas no varejo restrito registraram queda de 7,9% em comparação ao 2º trimestre de 2019 devido à crise trazida pelo coronavírus. No ano, o varejo aponta alta de 6,7% e, na variação acumulada em 12 meses, o crescimento passou de 5,4% para 5,9% após elevação de 6,3% na comparação interanual.
O ritmo de crescimento, com base nas comparações interanuais, perdeu força, algo que já era esperado. Nos meses de abril e maio, essa variação havia sido bem mais significativa, de 23,6% e 15,9%, respectivamente. Na avaliação dos economistas da Boa Vista, o efeito base, a partir de agora, fica para trás, de modo que os próximos resultados serão mais fiéis ao cenário econômico atual. Embora a prorrogação do auxílio emergencial tenha uma contribuição importante, o consumidor se encontra numa situação delicada, ou pelo menos assim deveria se sentir. Os dados do mercado de trabalho, mais uma vez, não trouxeram grandes e positivas novidades. A taxa de desemprego diminuiu em maio, 0,1 ponto percentual, para 14,6%, mas o número de pessoas empregadas ainda é 6,7% menor em comparação ao mês de maio de 2019; lembrando que em maio do ano passado o número já havia sido impactado pela crise, e o rendimento médio se encontra num ponto descendente da curva de longo prazo.
Como se isso não bastasse, o IPCA continua acelerando: em 12 meses, passou de 8,35% para 8,99% em julho. Diante disso, o Copom resolveu apertar o passo e subiu a taxa básica de juros, Selic, em 1 ponto percentual na última reunião (em 3 e 4 de agosto), para 5,25%. O efeito disso sobre a inflação ainda está por vir, mas as expectativas, ao invés de melhorar, pioram semana após semana. As projeções para o IPCA e para Selic subiram no último Boletim Focus, apontando para 6,88% e 7,25% ao final do ano, respectivamente.
À medida que as restrições ficam mais brandas, algumas demandas reprimidas devem voltar com força. Um dos pilares das vendas no varejo restrito, o crédito, em princípio não deve faltar, uma vez que os principais bancos deixaram a entender que o ritmo das concessões deve permanecer forte. A diferença é que para os bancos a taxa de inadimplência, mesmo após subir, o que é esperado, permaneceria em níveis, historicamente baixos. Além disso, as provisões realizadas sobretudo no ano passado os colocam numa posição mais segura. Já os consumidores em geral viram o comprometimento da renda e o endividamento subirem ao longo desse período mais crítico e se deparam com um cenário pouco amistoso, conforme citado anteriormente.
O ímpeto do consumidor em relação a algumas dessas demandas reprimidas ainda é uma incógnita. Contudo, se for robusto, os problemas futuros decorrentes disso já são bem conhecidos.