De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o volume de vendas no varejo restrito subiu 1,2% no mês de julho na comparação mensal dos dados dessazonalizados. O resultado veio no mesmo sentido do indicador antecedente de Movimento do Comércio da Boa Vista, que havia apontado alta de 0,6% na mesma base de comparação, e acima daquilo que era esperado pelo mercado como um todo, que apostava numa elevação de 0,5%. Vale ressaltar, também, que a variação “poderia” ter sido maior, uma vez que o resultado de junho, que antes apresentou queda de 1,7%, foi revisado, passando a mostrar alta de 0,9%.
Segundo os economistas da Boa Vista, dentre os destaques, foi observada alta de 2,8% no segmento de “Tecidos, vestuário e calçados”, ao passo que os segmentos de “Combustíveis e lubrificantes” e de “Móveis e Eletrodomésticos” operaram em queda de 0,3% e 1,4%, respectivamente. O segmento de “Super e hipermercados” andou de lado no período. Na comparação interanual foi observado um aumento de 5,7%, mais tímido se comparado ao resultado das pesquisas anteriores, algo que também foi captado pelo indicador da Boa Vista, que apresentou alta de 4,3% em comparação ao mês de julho do ano passado, também inferior em magnitude em relação aos últimos resultados. Na análise de longo prazo, medida pela variação acumulada em 12 meses, o crescimento se manteve em 5,9%, como no mês de junho.
Na avaliação dos economistas da Boa Vista, o 2º semestre tende a ser desafiador, não somente ao varejo, mas à economia como um todo. As razões disto, por sinal, estão se acumulando. O varejo deve encarar de frente, por um bom motivo, a concorrência com os serviços, algo que já está, ao menos parcialmente, refletido nos indicadores de confiança de ambos os setores, com consumidores e comerciantes menos confortáveis com a situação atual e uma melhora na percepção de que os serviços começaram a andar, de fato, para frente, ainda que num ritmo vagaroso.
O avanço da campanha de vacinação e, consequentemente, a redução das medidas de distanciamento social – em alguns lugares até mesmo o fim delas –, deve desatar os últimos nós das demandas até então reprimidas. Essa volta, contudo, é válida para ambos os setores e, dado que o orçamento das famílias está apertado, naturalmente espera-se que o consumidor opte entre um e outro, afastando assim a possibilidade disto virar uma bola de neve, o que ganharia traços ainda mais fortes quando postos à mesa os dados de comprometimento da renda e de endividamento das famílias.
De acordo com o Banco Central (BC), o endividamento das famílias atingiu 59,20% da renda acumulada em 12 meses, o maior valor da série. O problema maior reside no fato disto ter sido acompanhado de um aumento no comprometimento da renda, que atingiu 30,6% no mês de maio. Mais do que isso, não há indícios, até aqui, de que o comprometimento poderá caminhar no sentido oposto e diminuir, uma vez que, por exemplo, a curva de rendimento médio real está em desaceleração e uma redução na taxa de juros está cada vez mais fora dos planos do Banco Central, pelo menos no horizonte que ele define como relevante.
Além disso, no mercado de trabalho, os dados até sugerem uma melhora, mas não o suficiente para aliviar o cenário para o consumo. A taxa de desemprego recuou entre os meses de maio e junho, passando de 14,6% para 14,1%. Até aqui, um bom resultado, porém parte significativa dessa queda se deu por meio do aumento da informalidade, que passou de 40,0% para 40,6% no mesmo período.
O pior ficou para o final. A projeção de crescimento do IPCA não para de subir e já atingiu 7,58% para o final do ano, nível que “faz parte do jogo”, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mais do que isso, o resultado do IPCA em agosto foi uma surpresa para o mercado, não apenas pelo fato da variação ter sido maior do que aquilo que era prevista (0,87% x 0,70%), como também pelo fato da inflação ter sido disseminada entre diversas categorias. O Banco Central já “admitiu” que o foco é fazer com que a inflação se aproxime do centro da meta somente em 2022. Claro que algumas coisas fogem ao controle das pessoas que conduzem a economia e a política monetária, dentre elas, a crise hídrica, a pior dos últimos 91 anos, o impacto das geadas sobre a produção agrícola, o aumento no preço das commodities, dentre outros fatores, mas não os exime da responsabilidade de tentar reconduzir a economia para um quadro de crescimento sustentável, algo cada vez mais difícil em função da queda de braço entre as esferas executiva e judiciária.
Com todos esses fatores somados, o crescimento do varejo pode perder a força e a estabilidade observadas nos dados de julho e pode se transformar facilmente em desaceleração ao longo dos próximos meses.