Por trás da queda de 0,4% das vendas do varejo de outubro – após recuo de 1,3% em setembro, já descontados os efeitos sazonais –, há, de um lado, fatores pontuais, como os preços elevados dos combustíveis – que derrubaram novamente as vendas do setor – e a crise no ramo de livrarias, com fechamento de lojas de grandes redes, o que parece explicar parte do tombo de 7,4% das vendas do segmento apenas em outubro, na comparação com setembro – no ano, setor acumula queda de 11,2%.
A incerteza decorrente da disputa eleitoral, ainda indefinida naquele mês, também pode ter comprometido as vendas em setores onde o consumo frequentemente envolve endividamento, como móveis, eletrodomésticos, vestuário e calçados. Além disso, muitos consumidores podem ter esperado pela a Black Friday, no mês seguinte, adiado compras e, com isso, derrubado a venda nestes segmentos no mês – móveis e eletrodomésticos registraram queda mensal de 2,5% em outubro; vestuário e calçados, de 2%.
Por outro lado, destacam os economistas da Boa Vista, parece haver razões mais profundas por trás do desempenho decepcionante das vendas do varejo ao longo deste ano, especialmente quando são levadas em consideração as condições cada vez mais favoráveis do mercado de crédito (inadimplência e juros menores, somada à crescente disposição dos bancos a aumentar os financiamentos).
Para a Boa Vista, estas razões seriam o elevado nível de desemprego e o fraco crescimento da renda.
Ante a lenta recuperação do mercado de trabalho, a retomada do varejo vem se dando em ondas. No ano passado, com a liberação dos recursos do FGTS, foram favorecidos principalmente os setores móveis, eletrodomésticos, vestuário e calçados. Neste segundo momento, os consumidores parecem ter retomada projetos maiores que haviam sido adiados pela crise, como a reforma da casa ou a troca do carro.
De fato, no ano, as vendas de veículos registram crescimento de 16,2% no ano. No setor de materiais de construção, a alta é de 4,2%. Por outro lado, os setores de móveis e eletrodomésticos e de vestuário e calçados, que apresentaram alta das vendas em 2017, neste ano registram retração de 2,3% e 1,1%, respectivamente.
Assim, pode-se dizer que, ante o endividamento gerado pela compra ou troca do automóvel ou pela reforma da casa, em um cenário de crescimento ainda tímido do emprego formal e da renda, faltam recursos para consumo nos demais setores que não os de primeira necessidade – supermercados e farmácias registram alta das vendas no ano.
Novembro, contudo, ressaltam os economistas, por causa da Black Friday, foi favorável aos setores de eletrodomésticos, eletrônicos, vestuário e calçados, o que deve se refletir na próxima PMC. Na semana da Black Friday, de acordo com dados da Boa Vista, as vendas cresceram 4,7% em relação ao mesmo período de 2017.
As vendas do último bimestre do ano, de maneira geral, também vêm sendo impulsionadas pela retomada da confiança dos consumidores. Para o Natal, a expectativa da Boa Vista é de crescimento de 3,5% das vendas em relação ao ano passado.
O final do ano positivo para o comércio varejista, contudo, não altera o cenário da empresa de crescimento apenas gradual das vendas do varejo nos próximos meses, reflexo da lenta recuperação do mercado de trabalho.