De acordo com os dados do Banco Central, a taxa de inadimplência das famílias com recursos livres atingiu a marca de 4,28% em outubro após elevação de 0,03 pontos percentuais em relação ao nível verificado um mês antes. O resultado não surpreende e já havia sido antecipado pelo indicador de Registros de Inadimplentes da Boa Vista, que apontou leve alta de 0,2% na comparação mensal dos dados dessazonalizados no mesmo período. O indicador da Boa Vista vinha de alta nos meses anteriores e, mais do que isso, apresentou forte desaceleração da queda na variação acumulada em 12 meses até outubro, que se deveu ao fato de que o fluxo de inadimplentes foi muito baixo em outubro do ano passado, na verdade, durante todo o 4º trimestre daquele ano. Esse quadro, de baixo fluxo, não deve se repetir agora e, como sugere o indicador da Boa Vista, a taxa de inadimplência deve permanecer por um pouco mais de tempo nessa tendência de elevação, inclusive, ao longo do próximo ano.
Na avaliação dos economistas da Boa Vista, não são poucos os fatores que corroboram com esse aumento da inadimplência. Inflação, comprometimento da renda e desemprego elevados foram alguns deles, soma-se a isso o ciclo de elevação na taxa de juros, que também ainda não terminou. Podemos adicionar a queda no rendimento médio real do trabalho e o fim do auxílio emergencial que, combinados com a rolagem das dívidas durante a pandemia, contribuíram com o represamento da inadimplência durante o período mais crítico da pandemia. Mesmo com o Auxílio Brasil, que ainda não é tão substantivo quanto era pretendido pelo governo, o número de pessoas beneficiadas pelo programa é muito menor e é bem provável, se nada de extraordinário acontecer, que mais contas fiquem pelo caminho a partir daqui.
A taxa de juros subiu de 41,66% para 43,82% em outubro, mas desta vez foi pressionada para cima tanto pelo custo de captação, que passou de 9,26% para 10,04%, quanto pelo spread, que aumentou em 1,38 ponto percentual entre os meses de outubro e setembro, atingindo 33,78 pontos percentuais no total. Com base no exposto antes, a taxa básica de juros deve continuar subindo, bem como, a inadimplência, de modo que o spread também deve subir, então, a taxa de juros final não deve ceder tão cedo.
Já a concessão de crédito livre às famílias registrou alta de 14,85% na comparação interanual, em linha com o resultado do indicador de Demanda por Crédito da Boa Vista, que havia mostrado alta de 15,82% em relação a outubro de 2020. No ano, o crescimento de ambas as curvas desacelerou e estão muito próximos, o indicador da Boa Vista aponta crescimento de 19,40% e os números do Banco Central de 20,67%. Assim como as projeções de crescimento da economia para 2022, a concessão de crédito também pode “esfriar” no ano que vem.