A taxa de inadimplência das pessoas físicas com recursos livres encerrou o mês de fevereiro em 4,13% após registrar estabilidade na comparação mensal, e interrompeu um ciclo de queda que se iniciou em junho de 2020, segundo Nota de Crédito divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira (29). Desde o início da pandemia, a expectativa era de que tivéssemos elevação nas taxas de inadimplência.
De lá para cá, no entanto, a inadimplência caiu, contrariando todas as expectativas e distorcendo diversas relações com outras variáveis. O movimento de queda, contudo, esteve ancorado em dois fatores não recorrentes primordiais. O primeiro, e talvez o mais importante deles, foi a postergação dos pagamentos, e o segundo foi a utilização dos recursos oriundos do programa de auxílios emergenciais para quitar parcelas vencidas.
Na avaliação dos economistas da Boa Vista, o cenário atual, contudo, sugere que a inadimplência esteja num ponto de inflexão, uma vez que a taxa deve ser pressionada pelo aumento dos atrasos, que passaram de 3,24% em dezembro para 3,65% nesta última aferição. Além disso, os fatores anteriormente citados, por ora, não são mais válidos e, ainda que tenha sido aprovada a retomada do programa de auxílios emergenciais, o molde do novo programa é muito diferente daquele que o antecedeu, o número de beneficiários é menor, assim como o valor a ser recebido por cada um, de modo que a contribuição deste novo programa, no sentido de manter a inadimplência represada em níveis mais baixos, deve ser reduzida.
Outro fator que sugere uma elevação da inadimplência nas próximas aferições é o aumento dos spreads e juros pelo segundo mês consecutivo, confirmando a mudança na tendência de queda já observada em janeiro. Os spreads passaram de 32,1% em dezembro de 2020 para 34,5% em fevereiro de 2021. Consequentemente, houve também uma elevação nos juros no mesmo período, de 37,2% para 40,1%. Com o aumento esperado na taxa básica de juros e o aumento dos riscos com a inadimplência, os juros finais ao consumidor tendem a subir durante o ano.
Outro destaque ficou por conta das concessões dessazonalizadas de recursos livres, que subiram 4,8% no total no mês, sendo 6,8% de crescimento para pessoas físicas, desacelerando também a tendência de queda em 12 meses observada nas últimas medições, que passou de -4,5% para -4,4% em fevereiro. A expectativa é que a retomada da economia deva trazer as concessões de volta para o campo positivo. No mês anterior ao início da pandemia, as concessões em 12 meses apontavam crescimento superior a 10%, tanto para as famílias quanto para as empresas.