Na última década, fomos testemunhas de uma verdadeira revolução positiva no ambiente de crédito no Brasil. Depois de décadas de espera, finalmente experimentamos condições favoráveis do mercado tais como a queda do desemprego, o aumento do rendimento real, a queda das taxas de juros, a ampliação dos prazos de empréstimos e o crescimento da confiança do consumidor que incentivaram a expansão do crédito, em especial para novos consumidores.
Nesse período, a relação crédito/PIB dobrou passando de 24% em 2003 para 49% em 2011. Essa expansão foi muito significativa para as famílias, permitindo e sustentando o aquecimento do consumo: nos últimos 5 anos, 35 milhões de pessoas tiveram acesso ao crédito pela primeira vez. Associado a isso, as condições de emprego e renda já mencionadas garantiram uma importante mobilidade social, marcada pelo crescimento da classe C – representando 55% da população - e pela redução das classes D/E, que hoje representam aproximadamente 32% dos brasileiros.
Com essa realidade, novos desafios se apresentam ao mercado. Recentemente, alguns pontos de atenção têm ocupado os analistas:
- o crescimento da inadimplência - tanto medida pelo número de registros, quanto pela taxa do Banco Central;
- o maior endividamento e comprometimento da renda das famílias - atualmente na faixa de 43% e 22% respectivamente, segundo o BC;
- o aumento do risco nas operações de crédito.
Como exemplo deste cenário, cito o aumento expressivo da inadimplência em financiamento de veículos, modalidade de crédito cujas concessões cresceram 80% de 2009 para 2010. Embora considerada uma operação de baixo risco, essa modalidade teve uma alta na sua taxa de inadimplência, de 2,5% em dezembro de 2010 para 6,1% em maio de 2012. O mencionado crescimento do risco, associado às incertezas externas e a desaceleração da atividade econômica interna, fizeram com que os concedentes reduzissem o ritmo de crescimento das concessões como forma de se ajustar ao novo cenário.
Um dos mais interessantes movimentos recentes, e que merece uma análise cuidadosa, é a retração dos bancos no financiamento das carteiras de crédito de grandes varejistas. Depois de um forte movimento de aquisição destas carteiras, e de alguns anos de parceria, os bancos atualmente repensam suas estratégias.
O fato é que, com o crescimento do risco e da inadimplência já considerada em seus balanços, os concedentes precisam encontrar um novo equilíbrio entre risco e retorno, algo que passa obrigatoriamente por uma revisão dos seus modelos preditivos. Nesse contexto, ganha importância o papel dos bureaus de crédito como fornecedores de dados e plataformas de decisão, contribuindo, em especial, para os esforços de diminuição da assimetria de informação.
Essa assimetria é ainda mais evidente em relação aos novos consumidores de crédito, já que nesses casos a informação sobre eles é incipiente. Um levantamento da Boa Vista ilustra essa condição ao apontar que a inadimplência dos novos consumidores é, em média, 20% maior do que dos consumidores já habituados com o uso do crédito. A solução para equacionar tal desafio está apresentada ao mercado: o Cadastro Positivo, que melhora a capacidade de avaliação do risco ao incorporar o histórico de pagamento do consumidor, ao mesmo tempo em que cria incentivos para que o consumidor assuma papel ativo na definição do seu próprio "score" de crédito. Na Boa Vista, denominamos Consumidor Positivo aquele que entende a relação entre o seu comportamento de consumo e as condições de crédito que lhe serão oferecidas. O Consumidor Positivo entende que pode se beneficiar concretamente por meio de atitudes como: planejar melhor as suas finanças, pagar suas contas em dia, monitorar sua situação no Cadastro Positivo, prevenir-se contra fraudes em seu nome e, no caso de inadimplência, buscar renegociar sua dívida diretamente com o credor.
Diante do que foi dito até aqui, e a despeito dos desafios elencados, o recente crescimento e o amadurecimento do sistema de crédito brasileiro traz à tona conquistas que precisam ser preservadas. A chave para isso é o desenvolvimento do que na Boa Vista chamamos de um "ecossistema de crédito sustentável". Nesse modelo, consumidores e empresas estão do mesmo lado, em busca de um melhor equilíbrio entre as diversas faces dessa complexa equação, tão importante para a garantia do crescimento econômico. Cada uma das partes tem uma missão específica. As empresas devem intensificar e aprimorar o uso de ferramentas de análise para decisão, participando da incorporação de dados positivos na cadeia de crédito e colaborando para o processo de educação financeira do consumidor. Este, por sua vez, deve ser o protagonista da sua história financeira, assumindo a responsabilidade pelo uso do crédito e, assim, usá-lo bem e sempre.
Nesse cenário, a expectativa é que o Cadastro Positivo reduza as distorções inerentes à falta de informação e permita que o crédito no país continue se ampliando e criando espaço para mais reduções no custo dos empréstimos. Quanto mais informações sobre o tomador de empréstimos, melhor fica a capacidade de os ofertantes de crédito diferenciarem pessoas e empresas, determinando o custo das operações para cada um, de forma adequada.
A Boa Vista disponibiliza a segunda Pesquisa Nacional sobre Cadastro Positivo, da qual a relevante e importante informação que recebemos é a manutenção da expectativa favorável da população brasileira com relação a esta iniciativa, com 50% de aceitação - encontramos expressivos níveis de propensão a autorizar a inclusão no Cadastro Positivo, chegando a 81% para a população bancarizada e a 72% para a não bancarizada. A falta de conhecimento sobre o Cadastro Positivo, ainda é o principal motivo para o receio da autorização do consumidor final, segundo 68% da população.
O Cadastro Positivo permite às pessoas e às empresas acesso ao crédito qualificado, protege os fornecedores da inadimplência ou da perda de oportunidade de venda, alavancando o crescimento da economia.