Em tempos de economia fragilizada, a cautela no mercado de crédito eleva-se, tanto para consumidores quanto para empresas. No caso das empresas, sofrer perdas extraordinárias em um cenário combalido pode ser um primeiro passo para um processo de falência, número que já cresceu cerca de 14% neste ano. Para as famílias, a combinação de exageros no consumo e aperto da renda disponível podem traduzir-se em aumento da inadimplência.
No entanto, neste último caso, o comedimento do consumo das famílias tem atuado de forma decisiva: o menor consumo e menor tomada de crédito diminuem também o fluxo de inadimplência futura. De fato, a inadimplência do consumidor obteve alta de apenas 1,1% nos valores acumulados em 12 meses até setembro (acumulado entre outubro de 2014 a setembro de 2015 contra os 12 meses antecedentes), de acordo com os últimos dados da Boa Vista SCPC, na avaliação da série sem ajuste sazonal.
Até poucos meses atrás, os rendimentos reais mantinham-se positivos e o desemprego consideravelmente baixo. Com a virada do mercado de trabalho neste ano começou-se a cogitar a possibilidade de um novo surto de inadimplência.
Ocorre que, como a desaceleração da atividade foi gradual durante os últimos 3 anos e as condições de disciplina dos consumidores são muito melhores que no início da década passada (quando o mercado de crédito promoveu uma verdadeira enxurrada de empréstimos e, consequentemente, um grande número de dívidas não pagas), esta inadimplência ainda não se consubstanciou, na medida em que o consumidor já vinha se desalavancando.
Evidência disso é que desde junho do ano passado o fluxo da inadimplência cresce sutilmente apesar da sensível piora de diversas variáveis condicionantes. A taxa de inadimplência calculada pelo Banco Central confirma essa estabilidade, em agosto de 2015 a taxa para pessoas físicas nos recursos livres foi de 5,5%, 0,2 p.p. inferior a agosto de 2014. A baixa volatilidade da inadimplência ainda é a boa notícia do mercado de crédito.