A indústria brasileira ainda mostra-se muito longe de retomar aumentos na produção. O resultado divulgado hoje pelo IBGE apresentou grande recuo na análise da tendência (medido pela variação acumulada em 12 meses): caiu 1 p.p. em fevereiro, atingindo 4,5% de queda no período. Ao mesmo tempo, no curto prazo, as expectativas também não são nada animadoras. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da FGV caiu 9,2% na comparação mensal dos dados dessazonalizados, passando de 83 pontos em fevereiro para 75,4 pontos em março. Ou seja, a continuidade do movimento de queda para a produção na próxima aferição do IBGE já é praticamente dada como certa.
O fato é bastante preocupante. Não se sabe ao certo a dimensão que as perdas industriais podem acarretar para o restante da economia. Os investimentos, sobretudo industriais, geram um verdadeiro efeito multiplicador para economia: aumentos de investimento geram aumentos de produção, que por sua vez geram aumentos de emprego e, consequentemente, renda, que gera consumo, mais produção e assim por diante. É um verdadeiro ciclo virtuoso. Contudo, o problema que enfrentamos segue, na realidade, em sentido diametralmente oposto. Atualmente vemos forte queda de produção, retração dos investimentos e também já começamos a observar crescimento de desemprego. A próxima etapa deverá recair em uma diminuição do nível de renda. O setor que já chegou a representar mais de 28% há dez anos hoje responde por apenas 23% da economia.
Para dificultar, o horizonte de curto prazo tem se mostrado bastante pessimista. Mesmo com o ganho de produtividade adquirido pelo efeito de valorização recente do real frente ao dólar (real fraco aumenta a competitividade dos exportadores, o que resulta no aumento dos ganhos e ainda protege o setor manufatureiro de importar produtos muito baratos, incentivando o processo local), os industriais não se sentem confiantes o suficiente para retornar a produzir. Aliás, ainda devem livrar-se primeiro dos estoques acumulados, fator de difícil solução em uma economia com demanda cada vez menor.
Até que ponto a falta de confiança poderá minar nosso crescimento? O país age corretamente em suas medidas corretivas, pois não reagir poderá piorar ainda mais o cenário industrial e consequentemente o nível de renda, colocando em risco, inclusive, diversos avanços sociais.