Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

O governo de Obama ganhou uma importante batalha, desta vez diplomática, no Oriente Médio, ao trazer o Irã de volta à comunidade ocidental, pelo destravamento dos bloqueios de ativos, bens e comércio até aqui impostos pelos EUA, pela União Europeia e pelas Nações Unidas. A economia iraniana vai começar a respirar, depois de décadas de isolamento econômico. Ocorrerá, se bem administrado o processo de reintegração, uma explosão de crescimento naquele país, pelo efeito do relaxamento das restrições à entrada de capital e, principalmente, à venda do petróleo iraniano. O Irã deve recuperar, inicialmente, um comércio de cerca de um milhão de barris/dia, que havia perdido por não poder contratar nem seguro de transporte. O potencial vai além dos 2 milhões de barris/dia, com custo de produção incomparavelmente inferior ao da nossa dispendiosa província do pré-sal brasileiro.

Quem não gostou da iniciativa de paz foi a indústria da guerra. Os vizinhos israelenses, por sua vez, também torceram o nariz para as negociações. Estas estabelecem que o Irã só manterá urânio enriquecido a menos de 5% (usado em usinas nucleares), tendo que diluir o estoque enriquecido a 20%. Para fazer uma bomba, o urânio tem que passar por centrífugas até chegar a 90%. O controle internacional dessas centrífugas dará ao mundo algumas semanas de “vantagem”, caso o governo do Irã resolva, no futuro, escalar uma guerra nuclear preparando um petardo nuclear. Mas o Irã parece mais interessado em outra corrida, a do acesso às tecnologias e mercados do mundo capitalista. Mesmo com todo o embargo sofrido, o Irã tem uma renda per capita comparável à do Brasil, com cerca de metade do PIB brasileiro para uma população de menos da metade da brasileira. Com o alargamento da oferta de petróleo, o Brasil ganha mais um comprador, mas deverá encaixar o impacto de um eventual recuo acelerado dos preços das commodities, puxadas pelas cotações do óleo do Irã e do xisto dos EUA.

Ed.319