Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
Depois de 18 meses de negociações secretas, apoiadas pelo papa Francisco, os presidentes dos EUA e Cuba anunciaram que as relações diplomáticas serão reatadas. Num gesto de reaproximação, Washington liberou três agentes cubanos e Havana soltou duas pessoas que mantinha presas em Cuba. Embora o anúncio de ontem seja o primeiro passo para normalizar as relações, prossegue o embargo econômico que os EUA mantêm sobre a ilha. O fim do embargo econômico depende do Congresso americano, pois é regido por lei, ainda que o presidente Obama tenha autoridade para eliminar várias restrições econômicas.
Obama demonstrou pragmatismo e uma forte veia oportunista. O anúncio demonstra a clara intenção dos EUA de construir relações de cooperação com a América Latina. O cenário econômico atual, com o preço do petróleo e outras commodities em queda livre e a economia dos EUA em recuperação, abre caminho para uma “dominação branda” da diplomacia americana, numa era pós-militar na geopolítica planetária. A América Latina está se movendo (ou sendo empurrada) em direção a uma política mais liberal e pró-mercado. O populismo e o intervencionismo econômico nos governos locais estão perdendo força e a queda dos preços do petróleo irá acelerar mudanças políticas em vários países. A maré está mudando rumo à “Aliança do Pacífico”. As próximas eleições presidenciais nos EUA também podem trazer uma agenda mais voltada para a América Latina. A atual decisão de descongelar as relações com Cuba cria uma enorme oportunidade para os EUA recuperarem credibilidade e respeito na região. Há vencedores e grandes perdedores na retomada nas relações EUA-Cuba. Os países da Aliança do Pacífico vencem. Perdedores óbvios são Maduro e Kirchner, mas não a Venezuela e a Argentina, que podem se livrar deles em breve. O Brasil é um perdedor menor, deixado de lado como força predominante em Cuba. Mas para o Brasil, esta derrota ainda pode se transformar em algum tipo de cooperação.