Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
O câmbio Blue, como é apelidado o mercado paralelo na Argentina, viu a cotação do peso deslizar para $ 15 por dólar, abrindo uma diferença de 70% com o câmbio oficial, embora a moeda seja negociada aqui com cinco regras distintas de troca. A desvalorização do paralelo, acumulada este ano, já atinge 48%. A situação cambial tem se agravado depois que a Argentina foi empurrada para o que seria um default técnico, após decisão de um juiz norte-americano de impedir que o pagamento de juros sobre a dívida argentina renegociada fosse ultimado, antes de satisfazer aos credores rebelados contra o recorte do valor original da dívida em 2001. O Brasil amarga uma vizinhança incômoda que deve prejudicar bastante a perspectiva já nebulosa da economia brasileira nos próximos meses.
Mas há novos fatores no agravamento do panorama cambial do país vizinho. O preço da principal commodity de exportação, a soja, vem despencando nas últimas semanas. O milho já vinha caindo forte. As exportações industriais para o Brasil estão tropeçando na recessão da demanda brasileira, especialmente as de autos. O governo argentino esperava, com todo exagero de sua estimativa, que o PIB do país crescesse 6% em 2014. Agora já admitem oficialmente 0,5% e com isso se igualam ao recuo significativo do ritmo do PIB brasileiro. Nas lojas de Buenos Aires, multiplicam-se as liquidações e aumenta o desalento. O governo de Cristina Kirchner ainda tem mais um ano até as eleições em 2015 quando, ao que tudo indica, vencerá um opositor à era do casal Kirchner. Até lá, o agravamento do quadro é quase uma certeza. A preocupação maior, dentro do próprio governo, é com as consequências sociais e possíveis manifestações de rua, na esteira do impasse com os credores externos. A presidente Kirchner foi a Roma apelar por socorro ao Papa. Mas o banco do Vaticano pouco poderá fazer nesse caso.