Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Ao decidir a elevação da taxa básica de juros em 0,25%, o Banco Central deu um recado para o mercado de que não há - como nem poderia haver - qualquer obstáculo político à sua atuação. Entretanto, o BC usou a tática do gradualismo ao evitar um aumento dos juros em 0,50%, como seria mais plausível pelo atual, e sério, rompimento do teto da meta de inflação e, sobretudo, pelo anunciado afrouxamento da meta fiscal neste e no próximo ano, como ficou claro na nova Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), projeto enviado ao Congresso esta semana. Com a inflação acima do teto, o anúncio de forte redução do superávit primário planejado requereria de um BC independente a aplicação de um “puxão de orelhas” na política fiscal do governo.

O alerta preventivo do BC ao governo não aconteceu, como também deu margem para o comunicado do COPOM ressaltar outro aspecto da questão, o receio deflacionário de um cenário externo com muitos preços de commodities em baixa. O BC supõe que a queda de preços agrícolas e minerais no exterior venha a favorecer o controle natural do índice de inflação nos próximos meses. É uma aposta arriscada. O BC deve anunciar novo aumento de 0,25% na próxima reunião. Se o cenário deflacionário externo não se confirmar, o BC persistirá com altas graduais, pelo menos mais duas, até a taxa SELIC chegar a 8%.

Ed.167