Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Os mercados passaram do desânimo e desconfiança absoluta, ainda no mês passado, para o clima de euforia vivido ontem pelo anúncio vindo do FED de que a retirada gradual do programa de compras de papéis não acontecerá, possivelmente até o fim do ano. O FED continuará fazendo as grandes injeções de $85 bilhões por mês na economia americana, mesmo com a suposta melhora nos índices de desemprego. Logo, qualquer um deveria desconfiar de que o FED está vendo algo que não enxergamos. No Brasil, as posições ainda compradas em dólar e vendidas em bolsa foram desfeitas às pressas. Todos agora adotam a visão que havíamos solitariamente apontado em agosto, sobre a viabilidade de uma acomodação da curva cambial.

Os mercados de novo exageram, embalados pela surpresa do anúncio de continuado afrouxamento monetário pelo FED e, sobretudo, pela forma manipuladora com que os países maduros conduzem sua longa e penosa marcha pela Grande Recessão. Nada mudou, de fato, nem existe razão para qualquer euforia, nem lá, muito menos cá. A subida brusca do dólar frente ao real é, agora, revertida para uma queda rápida igualmente insustentável. É bom lembrar que aqui, tanto quanto lá, o Banco Central passou a ser ator no mercado. A qualquer momento, o BC poderá reduzir os swaps de câmbio e vendas diretas de papel podem diminuir, já amanhã, sexta-feira. Quanto à Bolsa, onde há papéis com excelente relação risco-retorno projetados pelos futuros fluxos de caixa, cabe contrapor um cenário inflacionário resistente, SELIC ainda em alta e um horizonte político de amargar.

Ed.274