Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
O anúncio pelo presidente do Banco Central da China de que iniciará o processo de flutuação da moeda chinesa, o renmimbi iuan, faz parte do contexto amplamente reformista deflagrado, na semana passada, pelo líder Xi Jinping. A liberalização do renmimbi será bem gradual, como quase tudo que se faz de mudanças econômicas na China. Mas o impacto do anúncio passa a gerar efeitos imediatos. Os mercados acreditaram no que ouviram, pois o contexto de reformas sociais e políticas anunciadas pelo governo se alinha ao princípio de dar mais espaço aos elementos de mercado - os fundamentos de oferta e demanda - que influirão cada vez mais na determinação do valor relativo da moeda chinesa.
O sentido estrutural da liberação do renmimbi é o de sua valorização frente à cesta de moedas dos países principais com que a China comercia. O índice de variação da taxa de câmbio chamada de "real e efetiva", ou seja, aquela descontada da inflação relativa dos países e ponderada pelos fluxos de comércio da China com os demais, tem tido uma valorização contínua e expressiva desde 2005, quando a moeda chinesa, até então muito desvalorizada, começou a traçar um caminho de retorno a uma gradual recuperação de valor. Desde 2005, a valorização foi de cerca de 30%, metade disso tendo ocorrido após a crise financeira de 2009. O anúncio recente não muda esta tendência; pelo contrário, a reforça e lhe dá sentido de permanência. Os chineses sentirão maior poder de consumo, deverão poupar menos e sairão pelo mundo gastando. Bom para o resto do mundo, especialmente para os EUA e Europa, além de Japão e Coreia do Sul, na Ásia, que podem oferecer vasta gama de opções de consumo aos ávidos chineses. Isso está em linha com uma recuperação industrial nos países maduros nos anos à frente, mas quase nenhuma vantagem para os emergentes como o Brasil, especializados em commodities, cujos preços podem até baixar mais.
Ed.318