Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
Sem alarde, o governo introduziu, a partir de hoje, a revisão da tabela de preços de bebidas que serve de base para a incidência da múltipla tributação federal, de IPI, PIS e Cofins. O que muda é a base sobre a qual incidem as alíquotas dos tributos. Sofrerão impacto as bebidas frias – cerveja, água, isotônicos e refrigerantes. Como anunciara o ministro Mantega, e já comentado aqui, o objetivo declarado é fazer face ao subsídio embutido na conta de energia, que é a Conta de Desenvolvimento Energético, outro subsídio. As empresas tentarão absorver parte dessa carga tributária extra para manter sua fatia de mercado, segurando preços ao consumidor. Uma parte do reajuste, porém, fatalmente irá parar nos preços finais, causando impacto de até 0,1 ponto percentual a mais no IPCA.
O impacto da tributação sobre os preços ao consumidor pega o governo administrando o limite da meta de inflação. Esse é apenas o início da reversão da política geral de subsídios aos preços “monitorados” (energia elétrica, gasolina e derivados, transportes urbanos e pedágios). O grande impacto dessa reversão deverá ocorrer em 2015 – o “tarifaço”. Mas o governo federal, pressionado pela queda do superávit primário e pelos efeitos da seca, é obrigado a antecipar medidas como esta, sobre bebidas, com reflexo indireto sobre os preços não monitorados. O Ministério da Fazenda está de olho noutra influência com a qual não contava: a alta das commodities no mercado externo que, desde o início deste ano, empurra a variação do IPCA para acima do limite superior da meta de 6,5%, o que deve ocorrer no primeiro turno das eleições, senão antes. A oposição a Dilma já começou a explorar a contradição de uma política forçada de preços monitorados para baixo em eletricidade, combustíveis e transportes, cujo efeito sobre as empresas estatais do ramo tem se revelado catastrófico e que ameaça, agora, garfar mais ainda a popularidade da presidente, na medida em que os subsídios se tornam insustentáveis.
Ed.389