Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
A decisão concatenada de vários governadores (PR e SP) de suspender ou suprimir os próximos reajustes de tarifas em concessões rodoviárias e de energia elétrica impõe uma nova realidade aos concessionários desses serviços. O mercado também passou a desconfiar da capacidade dos governos conseguirem absorver as diferenças entre os novos preços e os que ficam agora congelados. As ações das empresas concessionárias recuaram fortemente no pregão de 2ª feira, puxando o Indice Bovespa para um patamar de 45 mil pontos. O governo de São Paulo avisou que conseguiu acomodar o não reajuste do pedágio nas suas rodovias. Mas a medida deixou um rastro de insegurança quanto ao equilíbrio dos contratos em geral e à margem de retorno futura nessas e noutras concessões.
As ruas pedem, genericamente, moderação nos reajustes e transparência nas contas. Mas os governos, acuados, tentam agora ganhar tempo, adiando reajustes e congelando preços. De fato, há cláusulas de reajuste por IGP-M, por exemplo, e determinadas formas de cálculo dos pedágios e tarifas, que não resistiriam a uma avaliação técnica mais detalhada. Os prazos anuais para o reajuste são também um resquício inflacionário que retroalimenta a inflação brasileira, estendendo-se a quase tudo, inclusive salários. O governo federal já perdeu a chance de rever a indexação da economia quando Dilma conseguiu ser vitoriosa na redução de juros. A maré virou perigosamente contra a estabilidade econômica: as reivindicações atuais se somam às enormes pressões adversas da economia mundial. Esse cenário terá como principal vítima o investimento produtivo privado que dependa de aval, autorização ou créditos de governo. Nesse rol estão as futuras concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos programadas para breve, assim como aberturas de capital pelo setor privado e, em especial, os esforços de reestruturação de negócios, como o do conglomerado de Eike Batista.
Ed.213