Por Yan Cattani
Que o consumo não anda bem, o resultado do PIB divulgado no início do mês já havia nos alertado. Essa variável, talvez a principal para compreensão da atual crise econômica, teve em apenas um ano sua dinâmica completamente alterada e passou de um resultado positivo para outro péssimo. O significado é simples: menos compras, menos oferta de bens e serviços, menos renda.
Neste patamar, o consumo pode também ser considerado “inercial”. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a intenção de consumo das famílias caiu 1,6% em março, na comparação direta com fevereiro. O nível do indicador encontra-se abaixo de seu nível de otimismo (100 pontos-base, p.b.), marcando 77,5 pontos em uma escala que varia de 0 a 200. Com isso, 59,2% das famílias afirmaram estar com um nível de consumo menor que no mesmo período do ano passado. Além disso, outro item que chama atenção no relatório é a drástica redução das compras a prazo: com relação a março de 2015, a queda foi de 35,5%.
Tais dados confirmam a tendência apresentada hoje pelo indicador da Boa Vista SCPC de Demanda por Crédito do Consumidor. Até fevereiro, a variação acumulada em 12 meses manteve sua tendência negativa, com queda de 6,2%. Mantida a base de comparação, considerando os segmentos que compõe o indicador, as instituições financeiras apresentaram queda de 7,1%, enquanto nos segmento não-financeiro (utilities, telecom e varejo) caiu 5,7%. Fatores como a alta das taxas de juros, inflação elevada e piora do mercado de trabalho são apenas algumas das variáveis condicionantes desse resultado, que acabaram obrigando o consumidor a ser mais cauteloso e consequentemente comedir seu consumo.
A parcial evolução dos indicadores de confiança na economia nos últimos meses demonstra não uma significativa melhora das condições econômicas atuais ou de perspectiva, mas sim a de um consumidor que não consegue mais diferenciar uma perspectiva ruim de outra pior. Por esse e outros motivos, o consumo mostra-se completamente estagnado, devendo assim permanecer pelos próximos 2 trimestres.