Estamos vivendo mais uma mudança no mercado de crédito brasileiro. A única categoria de crédito às famílias que ainda apresentava crescimento vigoroso nos últimos anos, o crédito imobiliário, que chegou a crescer 50% em 2010 e hoje cresce 26% ao ano, mostra sinais de cansaço. E esse desgaste vem principalmente do lado da oferta. Os recursos que advém da caderneta de poupança e que compunham cerca de 80% do valor total do crédito imobiliário em 2013 minguaram e hoje só representam 40%.
Nos últimos quatro meses, os saques recordes deixaram os bancos com poucos recursos para emprestar. A poupança já perdeu R$ 29 bilhões em investimentos no período, que migraram tanto para outras aplicações financeiras com maiores taxas de juros como para a conta dos correntistas que viram seus orçamentos ficarem mais apertados com a elevação de preços na economia. A Caixa Econômica Federal (CEF), líder do setor com quase 70% das operações com recursos oriundos da poupança, suspendeu todos os novos pedidos de financiamento imobiliário, segundo reportagem do jornal Estado de São Paulo desta terça-feira. O rigor para os empréstimos vem aumentando e os incentivos diminuem com os juros maiores e menores percentuais a serem financiados.
Mas as dificuldades se estendem aos demais bancos, que solicitaram ao Banco Central (BC), em vão, a liberação de recursos dos depósitos compulsórios da poupança. O BC argumenta que uma medida como essa seria contraditória com as recentes decisões de aperto monetário.
Sem muitas alternativas, é mais provável que o governo passe a incentivar outras medidas para substituir o papel da poupança no financiamento imobiliário, apelando, por exemplo, para a flexibilização dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A redução de recursos para financiamentos de imóveis não afeta somente o déficit habitacional brasileiro. Menos recursos podem levar a uma queda na demanda e no preço dos imóveis no Brasil, com possíveis desdobramentos sobre o bem-estar do mercado de crédito.