Yan Cattani/Bruna Martins
Os manuais básicos de economia costumam apresentar aos leitores conceitos e noções sobre o funcionamento de oferta e demanda nos mercados. Quando alguma de suas variáveis apresenta distorções, a eficiência deste mercado diminui e gera-se um excedente de bens e serviços não aproveitável por nenhuma das partes envolvidas. De forma simplificada, esse é o conceito chamado de peso-morto.
Ao longo de 2015, tentou-se minimizar algumas fontes de peso-morto, intensificadas a partir de 2010 e causadas ou pelo excesso de regulação, como no caso da repreensão de preços de bens administrados, ou pela falta da regulação, como no caso da ação tardia da política monetária.
Esses exemplos não foram citados aleatoriamente. A política de preços e monetária afetou profundamente o ritmo de crescimento da demanda doméstica, por meio da grande elevação dos preços (que deverá ultrapassar os 10% para 2015) e da majoração dos juros cobrados aos demandantes de crédito, e mais intensamente, ao consumidor. Ambas distorções impactaram de forma considerável o orçamento das famílias, obrigadas em muitas situações a elevar seu endividamento de modo a complementar sua cesta de bens e serviços.
De fato, conforme apontam os dados do município de São Paulo da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), a proporção de famílias endividadas aumentou 50% no encerramento de 2015, tendo crescido 6,9 p.p. em relação ao término de 2014.
Apesar do aumento do endividamento não ocasionar necessariamente elevação da inadimplência, pode-se verificar que o crescimento das famílias que não terão condições de pagar suas dívidas subiu de forma relevante, atingindo 7,3% do total de famílias endividadas, segundo a FecomercioSP. Esse é mais um reflexo dos ajustes econômicos tardiamente iniciados no ano passado. E mais uma evidência de que o peso dos desajustes pode até ser morto, mas sem dúvidas repercute em custos.