Por Yan Cattani
Há um ano, o mercado de trabalho iniciava um movimento de inflexão, passando de uma situação considerada de pleno emprego, com rendimentos reais crescentes e desocupação limitada a apenas 4,3% da população economicamente ativa, para entrar em um território hostil, de elevado desemprego e queda da renda do trabalhador.
De acordo com os dados de mercado de trabalho divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desemprego de fevereiro atingiu 8,2%. Na comparação com janeiro, o indicador avançou 0,6 p.p., enquanto em relação ao mesmo mês do ano passado, a elevação foi de 2,4 p.p. Com relação aos rendimentos, o valor médio habitual real calculado foi de R$ 2.227,50, caindo 5,1% na variação acumulada em 12 meses.
O grande avanço do desemprego nas regiões de São Paulo e Belo Horizonte nos últimos dois meses tem colaborado de forma decisiva para o atual resultado do desemprego. Com relação aos rendimentos reais, houve intensificação da queda de sua tendência nos valores acumulados em 12 meses em todas as regiões, com exceção da região de Porto Alegre, onde os rendimentos ainda caem de forma mais amena.
Em termos setoriais, a queda da população ocupada no comércio foi o principal motivo da elevação da desocupação. Durante janeiro, houve elevação da ocupação no setor, fator ainda ligado à contratação temporária da época de Natal, cujo peso do trabalho informal é mais relevante.
Porém, levando em consideração somente o setor formal do mercado de trabalho, outros dados do Caged (Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados) forneceram maiores informações sobre a situação atual do emprego. Apenas nos últimos 12 meses, o saldo entre empregados e desempregados encontra-se negativo em 1,74 milhões de trabalhadores. Dentre os setores mais afetados, a indústria lidera o montante negativo, com 678 mil trabalhadores, seguida de construção civil (-398 mil), serviços (-388 mil) e comércio (-243 mil).
As próximas aferições para o resultado agregado brasileiro deverão seguir a tendência apontada pela região Sudeste, onde o mercado de trabalho mostrou-se mais resiliente em 2015 do que nas outras regiões do país. Resta saber se continuarão com a mesma intensidade apresentada dos últimos 2 meses ou se haverá alguma desaceleração desta tendência.