No início deste ano, as expectativas de mercado para o final de 2015 sobre inflação e juros levavam em consideração um cenário considerado pessimista: 6,56% e 12,50%, respectivamente. Pessimista por avaliar que o nível de preços romperia o teto estabelecido pela autoridade monetária e que ainda por cima haveria continuidade do aperto monetário.
O crédito, talvez o último bastião da economia brasileira à época, permanecera intacto: expectativas rondavam crescimento nominal acima de 10%, influenciados preponderantemente pela expansão dos recursos direcionados. Aos recursos livres já era esperada uma retração em termos reais, em virtude da já observada desaceleração do consumo das famílias. Passados oito meses, o cenário piorou, a Selic deverá permanecer no atual nível, 14,25%, enquanto o IPCA aguardado é de 9,34%. Tais estimativas afetaram de sobremaneira o desempenho do mercado de crédito que ainda convive com um cenário de recuo no consumo e na atividade das empresas.
Dados de hoje do Banco Central mostram que até agosto o estoque total de empréstimos e financiamentos atingiu R$3.132,4 bilhões, o que corresponde a um aumento de 9,6% em doze meses, desacelerando 0,3 p.p. em relação a julho. Em termos reais o saldo já apresenta variação nula e, ao contrário do esperado, encerrará o ano em queda pela primeira vez em sua série histórica. O resultado das novas concessões surpreende negativamente. Considerando os valores acumulados em 12 meses, em todas as categorias destinadas às pessoas jurídicas, há retração de 1,9% nos recursos livres e 13,3% nos direcionados. Para os consumidores, a queda dos recursos direcionados já atinge 3,9%, ritmo que deverá piorar, considerando os grandes cortes de programas de financiamento habitacional noticiados recentemente.
Os juros continuam em elevação, refletindo o aumento de riscos no sistema financeiro, perceptível nos números crescentes da inadimplência. Os juros livres ao consumidor atingiram 61,2%, 11,5 p.p. maiores do que há um ano, e devem se manter elevados ao longo dos próximos meses. A inadimplência das pessoas físicas subiu para 5,5% e das empresas se manteve em 4,1%. Apesar do aumento, a inadimplência dos consumidores ainda é 0,2 p.p. inferior a agosto do ano passado, enquanto a das empresas é 0,6 p.p. superior.
Esse novo cenário já vem se consolidando há alguns meses. A única variável que ainda resistia aos efeitos negativos do cenário era a inadimplência. Parece não resistir mais.