Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
O Brasil esperava o hexacampeonato pelo calor da emoção. Mas não havia base racional para tal esperança. Com a derrota estrondosa no Mineirão, a ficha caiu e, com realismo espantoso, os brasileiros aceitaram o placar como quem se resigna aos resultados de um vestibular mal sucedido. É preciso começar de novo. Mas não do mesmo ponto em que estávamos antes da derrota. Aprendemos. E muito. A derrota, quando vem com leitura reflexiva, é mais pedagógica do que uma vitória.
E começaram a aparecer as lições provindas de reflexão. Uma delas é que o futebol brasileiro imita a sociedade e a economia. Não seria por acaso que o Brasil das décadas de 1950 a 70 produziu o tricampeonato com seu futebol-arte. Na economia foi igual. Primeiro, o espantoso impulso industrializador e de infraestrutura do período JK, com Brasília e a abertura do Centro Oeste, nosso atual celeiro. A seleção de Feola faturou o caneco em 1958. Em seguida, as reformas institucionais promovidas pelos craques Campos e Bulhões, com o novo Banco Central, a lei bancária, a lei de mercado de capitais, o BNH e o FGTS, a estruturação da dívida mobiliária, o inovador Código Tributário Nacional, só entre os mais significativos avanços. O "tri" veio em 1970, com o PIB brasileiro crescendo mais de 10% ao ano! E mais importante: o setor governo funcionava bem, com uma poupança e investimento públicos na faixa de 5% do PIB (só para comparar, a poupança pública hoje é negativa e o investimento do governo não chega a 2% do PIB).
Talvez as duas últimas vitórias do Brasil, em 94 e 2002, também sejam reflexo de uma vitória do País sobre a inflação e a pobreza absoluta, a partir do Plano Real (1994). Mas foi revolução incompleta. O Brasil virou o "País dos Impostos", com uma gestão pública perdulária e sem programa, o que ficou claro no cotejo do padrão FIFA com o padrão "puxadinho" e com o padrão povo, este sim nota dez. Portanto, consertar a seleção é consertar o Brasil do setor público. Nada menos do que uma transformação se impõe. É o que pedem as ruas. E agora as arenas.