Por Paulo Rabello de Castro
O governo se assustou com a mididesvalorização cambial de cerca de 20% que vem se acumulando nos últimos dois meses, ao ver a cotação do dólar atingir R$2,40 na sexta feira passada. Há rumores de que Dilma, ministra-chefe para assuntos econômicos, gostaria de ver o câmbio estabilizado por volta de R$2,30. É difícil que a política fiscal resolva esse desafio. Resta ao Banco Central operar, mais uma vez, o veneno dos juros de modo curto e grosso. Isso envolveria dois aumentos subsequentes de meio ponto percentual, dos atuais 8,5%, em direção a 9,5% ao fim deste ano. Por óbvio, não será em 2014 que Dilma desejará novos aumentos de juros e, muito menos, os efeitos nefastos desses aumentos sobre a demanda interna de consumo e sobre o repasse inflacionário pelas empresas. Todos esses efeitos ruins deveriam ficar concentrados no ano perdido (politicamente falando) de 2013.
Mas há também uma razão externa para o Banco Central continuar agindo preventivamente. Os juros do Tesouro americano, de prazo de 10 anos, também têm sofrido forte altas, atingindo 2,83% na semana passada, ao indicar que o mercado já conta com os efeitos da retirada gradual dos estímulos do QE4, o afrouxamento monetário de lá. Se os juros sobem nos EUA, tendem a subir mundo afora, como um sistema intercomunicado. E a subida de juros nos EUA enfraquece as moedas dos concorrentes, especialmente daqueles pegos em déficits externos e/ou fiscais elevados, como no caso da Índia, onde a rúpia segue o exemplo brasileiro de desvalorização impetuosa (de 52 para 62, por dólar). Não obstante o cenário devastador para o governo Dilma, que contava com recuperação este ano, o jogo não está perdido para o seu governo. O maior inimigo da estabilidade cambial tem sido a própria política fiscal.
Ed.251