O governo brasileiro festeja o nascimento de um novo acordo comercial com a China. Em meio às tensas disputas com o Congresso e a suposta paralisação das ações, o governo comemora o anúncio dos investimentos e tenta descontrair os desconfiados agentes econômicos no Brasil.
O acordo deve intensificar a jovem parceria comercial do Brasil com a China, que foi reestabelecida em 1974, mas já transformou o país asiático no principal parceiro comercial brasileiro. A novidade é que agora, a China, que sempre se concentrou na importação de commodities brasileiras, pretende atuar mais fortemente em infraestrutura. Faz parte da estratégia chinesa de mudar o seu modelo de crescimento, estimulando o consumo interno e utilizando suas enormes reservas para investir em outros países. A chegada dos recursos pode atenuar os efeitos dos cortes previstos no orçamento brasileiro devido ao ajuste fiscal.
Com o acordo de ontem, alguns efeitos imediatos já puderam ser observados, como a reabertura do comércio de carne bovina para a China e a confirmação da venda de 22 aeronaves da Embraer para uma companhia aérea chinesa. O projeto mais importante, no entanto, a construção da ferrovia que liga o Atlântico ao Pacífico, é polêmico e a sua implementação não é um consenso. Os desafios ambientais e licitatórios são elevados e podem levar anos para serem destravados. Em suma, a chance dos investimentos neste projeto realmente se concretizarem ainda é uma grande incógnita.
Mas o anúncio do projeto dá certa paz ao governo, e tempo para pensar nas próximas batalhas. O tempo dirá se os benefícios dos acordos se materializarão no Brasil e na América Latina ou se será apenas mais um negócio da China. Com a tempestade em que se transformou o início de mandato, o governo aproveita o happy hour, e torce para que o tempo voe.