Por Flávio Calife e Bruna Martins, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC
Dados divulgados hoje pelo Banco Central (BC) mostram que o saldo das operações de crédito do sistema financeiro atingiu R$ 3.022 bilhões em dezembro de 2014, apresentando um aumento de 11,3% em comparação ao ano anterior. Apesar das medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda e pelo BC a partir do segundo semestre de 2014, que reduzem o risco das instituições financeiras e deveriam incentivar a oferta de crédito, o resultado ficou abaixo dos 12% previstos pelo BC. Embora o crédito com recursos livres destinado às pessoas físicas tenha despencado ao longo do ano, os empréstimos e financiamentos às empresas e o crédito imobiliário sustentaram essa expansão na casa dos dois dígitos.
Aparentemente o ciclo de aumento da Selic, iniciado em meados de 2013, não parece ter sido responsável pela elevação da taxa de juros finais ao consumidor, que passou de 38,0% para 43,4% em 2014. A taxa de captação dos bancos aumentou apenas 0,2 p.p., passando de 12,2% para 12,4%, enquanto os spreads bancários passaram de 25,8% para 31,0%, refletindo a diminuição da competição entre os bancos públicos e privados.
A boa notícia é que a inadimplência surfou outra onda. A despeito do cenário macroeconômico adverso, os números apontam estabilidade da taxa para pessoa física, passando de 6,7% para 6,5%. Esse resultado positivo revela que a seletividade dos concedentes e a cautela dos consumidores foram fatores muito mais decisivos, como apontado em artigo de Dorival Dourado publicado no início de 2014. Em 2015 o cenário não promete ser melhor. O baixo desempenho da economia deve refletir diretamente no cenário de crédito. O saldo continuará desacelerando, a taxa de juros não tende a recuar e a inadimplência estará muito mais sujeita aos fatores macroeconômicos do que esteve em 2014.