Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
Num acordo anunciado anteontem, após negociações sigilosas, Barack Obama e Xi Jinping estipularam, pela primeira vez, compromisso específico de redução gradual das emissões de carbono na atmosfera. Do lado americano, a meta é de reduzir de 26 a 28% essas emissões até 2025, sobre a base de 2005. Pelo lado chinês, o objetivo é passar a ter uma curva descendente de emissões de 2030 para frente. O acordo foi saudado com esperança e cautela pelos especialistas na saúde do planeta. Para alguns deles, as metas traçadas ainda não impedirão que a temperatura venha a estar no limite de mais 2 graus centígrados até 2100. Mas numa análise gradualista, o acordo pode ter amplo significado positivo.
Um dos aspectos a ressaltar é a nova atitude política demonstrada pela China de Xi Jinping. O “Império do Centro”, tal como a China se vê, nunca tinha dado bola para compromissos ambientais com outros povos, apesar de estar seriamente embarcada em mudar sua matriz energética suja, dependente do carvão, para ter, em mais alguns anos, 20% em geração de energia considerada limpa. O acordo firmado com os EUA, outro recalcitrante em compromissos ambientais, é um passo gigantesco na direção certa. Também se pode fazer uma leitura diplomática mais ampla do acordo. Compromissos de proteção do ambiente planetário estabelecem bases de controle recíproco entre países e de cooperação, afastando o espectro de uma corrida armamentista sempre presente, especialmente entre China e EUA. Em seguida, há a leitura econômica: a China elevará seu custo de produção, subsidiado hoje pelo recurso à poluição que os fabricantes de produtos baratos não contabilizam. O Brasil poderá ser beneficiado pelas novas regras. Mas será um caminho lento e penoso. Até lá a indústria nacional precisa sobreviver.