Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Por margem folgada, o Senado americano construiu uma saída de última hora para o impasse do financiamento do seu déficit fiscal e rolagem da enorme dívida soberana que acumula. A Câmara de Deputados, controlada pelos Republicanos, votou pela aprovação, embora com grande número de votos contrários (144 contra e 285 a favor). Os mercados refluíram, em particular os títulos de dívida de dez anos de prazo, que negociam a 2,70% no momento. O dólar se desvalorizou e o ouro permaneceu pressionado. As bolsas comemoraram pouco a decisão, com alta modesta na Ásia e baixa pequena na Europa. Os investidores já descontavam a perspectiva de que a estúpida queda de braço entre políticos em Washington, brincando na beira do abismo, não resultaria em uma tragédia acidental. Por isso, o pânico nunca se instalou.

Agora surgem as sequelas. A agência chinesa de rating Dagong anunciou novo rebaixamento da dívida americana. É uma prática ruim das agências de risco, que se manifestam em cima de fatos consumados, com nenhum poder de antecipação e grande poder de confusão, uma vez que comentam riscos já evidenciados. A SR Rating, agência brasileira comprometida com atuação de padrão global, foi a primeira no mundo a fazer um rebaixamento da nota americana - para AA - ainda em maio de 2009, ressaltando sobretudo o crescente risco político que se antevia entre os dois partidos nos EUA como sequela maior da crise financeira, então apenas começando. O que parecia um atrevimento de uma agência brasileira era apenas o exercício de sua capacidade profissional de antecipar fenômenos, esta a tarefa mais importante de um "rating". De fato, é credibilidade que os EUA estão perdendo a olhos vistos. Isso não aparece logo nos juros praticados, dada a imensa liquidez. Mas imporá marcas duras e castigo financeiro aos EUA quando o atual quadro de liquidez se inverter.

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