Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
A China não foge ao padrão recente de governos lutarem contra os efeitos da crise mundial pelo despejamento de uma quantidade assustadora de liquidez. Antes de 2008, a expansão média do crédito total na China ficava em cerca de 14% ao ano (período 2002-2007). Com o estouro da bolha nos EUA e Europa, para evitar a recessão da produção interna, as autoridades chinesas usaram o crédito em ainda maior volume (cerca de 20% de expansão anual), fugindo ao padrão usual de prudência, que indica ser perigosa a expansão do crédito interno quando este avança, anualmente, a mais de duas vezes sobre a correspondente expansão do PIB nominal.
De 2008, quando era de 124% do PIB, para 2012, quando beirou 190% do PIB, o endividamento chinês deu um salto monumental, melhor dizendo, um salto mortal. Em 2012, para contornar mais um desaquecimento rápido da economia, os novos financiamentos, foram de 15,7 trilhões de yuans, cerca de US$2,5 trilhões, ou seja, um PIB brasileiro inteiro, concedido sob a forma de empréstimos novos, em um único ano. O travamento do crédito chinês é questão de tempo. Ocorrerá por meio de uma crise de confiança, deflagrando consequências sobre a economia mundial e, portanto, a brasileira. Difícil precisar quanto ainda demora. É provável que as autoridades chinesas percorram o caminho de prover crescente liquidez, para adiar o momento de um ajuste com pânico. Especula-se que não seria outra a razão de o BC chinês haver despejado nesta terça-feira, por conta do Ano Novo chinês, cerca de US$72 bilhões no mercado monetário, impedindo que as taxas de juros de curtíssimo prazo subissem. Essa injeção de dinheiro novo é um recorde para a data festiva, na comparação com anos anteriores.
Ed.119