Por Yan Cattani e Flávio Calife, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC.
Amanhã o Banco Central (BC) divulgará os primeiros dados sobre crédito do ano. Em comparação com outros setores da economia, pode-se dizer que o setor bancário ainda passa distante de uma crise. A inadimplência mantém-se estável, o saldo de crédito segue crescendo a dois dígitos e o sistema financeiro tem mostrado grande robustez frente aos choques externos.
Contudo, nos últimos anos temos observado forte tendência de desaceleração. Especificamente, o crédito para consumo (representado principalmente pelos recursos livres), que possui uma participação no crédito total de 52,2% e apresentou em sua última aferição um pífio crescimento de 4,7% em termos nominais. Ou seja, considerando a inflação acumulada nos últimos 12 meses, há na realidade uma queda real dos recursos.
Esta preocupação tem se refletido diretamente nos Indicadores de Condições de Crédito (ICC), também divulgados pelo BC. Além de mostrar-nos a situação atual, a pesquisa faz uma aferição das expectativas do mercado em relação à oferta, demanda e aprovação do crédito. Com relação ao último resultado dos indicadores, houve piora no lado da oferta na maioria das categorias analisadas no último trimestre de 2014 e a demanda surpreendentemente apresentou uma melhora. Em termos de aprovação de crédito (o efetivamente cedido aos demandantes), o crédito para consumo foi o único a apresentar queda.
Para o primeiro trimestre de 2015, as expectativas apontam deterioração em quase todas os indicadores. Mas enquanto a demanda cai de forma generalizada, a oferta e a aprovação de crédito apresentam melhora somente para a categoria de consumo. Considerando a importância que o crédito para consumo possui frente ao total, vê-se um primeiro sinal positivo neste ano. Os dados que serão divulgados amanhã poderão abrir as portas para esse cenário. Talvez seja hora de colocar no radar uma participação mais decisiva do consumo na oferta de crédito.