A inadimplência tem sido uma das variáveis mais enigmáticas da economia nos últimos anos. A despeito da piora da maior parte dos indicadores macroeconômicos, surpreendentemente essa variável tem se comportado muito bem: após grandes amplitudes em sua série histórica, a taxa de inadimplência vivencia cenário de estabilidade. Para 2015 este cenário não deverá se alterar de forma preocupante, apesar de todas variáveis condicionantes continuarem a se deteriorar - muitas inclusive em ritmo mais intenso.
Tal racional é sustentado pela observação dos últimos dois ciclos de inadimplência, ocorridos em 2009 e 2012, mas que deixaram verdadeiras “cicatrizes” causadas pelos abusos no mercado de crédito brasileiro. No primeiro ciclo de inadimplência, após um uso exacerbado de crédito por parte do consumidor, as consequências negativas do mau uso de crédito tornaram-no mais cauteloso, com mais experiência em suas finanças pessoais. Já no segundo ciclo, verificamos uma modificação do mix das carteiras de crédito das pessoas físicas por parte dos concedentes. Estes, ao recalibrarem seus modelos estatísticos de risco acabaram por redimensionar os recursos disponíveis para empréstimos para categorias menos arriscadas, como o crédito consignado e o imobiliário - modalidades consideradas de melhor qualidade devido aos maiores prazos e menores juros ao consumidor.
Foi um aprendizado importante, que resistiu inclusive às situações adversas da economia vivenciada especialmente nos últimos 2 anos, com baixa atividade econômica, a inflação e juros em patamares elevados e a redução da demanda do consumidor por crédito, entre outras tantas variáveis.
Contudo, neste ano o cenário se modifica um pouco: desta vez as dificuldades econômicas devem se sobrepor às influências da seletividade dos ofertantes e dos demandantes de crédito. Enquanto perdurarem as medidas corretivas tanto por parte da política fiscal quanto por parte da política monetária, o mercado de crédito deverá se deteriorar, sendo compensado em boa parte pelos seus bons fundamentos alicerçados nos últimos anos. Com isso, esperamos que a taxa de inadimplência eleve-se sutilmente, mas ainda em patamares próximos aos registrados em 2014.