Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
Em sucessivas reuniões entre o Planalto e a Fazenda, tem ficado patente que o engessamento das despesas correntes no Orçamento da União impede que o Governo Dilma possa cumprir a meta fiscal de 2,3% do PIB este ano, como estabelecido originalmente. Por engessamento se entende a dificuldade legal de coibir aumentos de verbas previstas e aprovadas pelo Congresso. Em razão disso, qualquer tentativa de anunciar cortes orçamentários para valer afetaria despesas de investimentos. O Planalto reage contra a ideia de passar uma expectativa de redução ainda maior do ritmo da economia.
Por paradoxal que possa parecer, o Governo está correto sobre a inutilidade do anúncio de um corte seletivo sobre certas rubricas neste momento. A economia está em franca desaceleração e a inflação, embora incomodamente acima do topo da meta, não ameaça explodir. Com juros em alta, o BC já impôs freio ao consumo privado. Portanto, as cartas do governo já foram lançadas no sentido de reprimir a inflação por meio da usual repressão aos gastos do setor privado. Embora esteja claro para a sociedade que este não é o melhor caminho, ficou para o próximo governo mudar a política econômica de modo a equilibrar sacrifícios entre a sociedade e o setor público. Até lá, o governo continuará gastando mais do que arrecada e, também, mais do que o PIB nominal consegue crescer para pagar a conta.
Ed.228