Por Yan Cattani, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC
A Suíça, discreto país localizado bem no coração da Europa, é conhecida pela comunidade internacional por sua estabilidade política, sua experiência bancária e pelo sigilo que possui com a administração dos bens de seus clientes. É um local onde seus habitantes gabam-se de nunca em sua história terem presenciado qualquer tipo de conflito bélico.
Um olhar mais atento à história sugere uma visão alternativa para este último aspecto. Apesar de nunca terem participado diretamente de guerras, na Idade Moderna seu principal negócio era justamente treinar e exportar exércitos de mercenários. Não batalhavam em próprio solo, mas sabiam lutar. E ontem, finalmente, a Suíça decidiu entrar em uma guerra - pelo menos no sentido cambial. De maneira inesperada pelo mercado financeiro, o Banco Central Suíço (SNB) liberou o piso cambial do franco suíço frente ao euro, até então fixado em uma cotação de 1,20. Após o anúncio da medida, o câmbio entre as moedas oscilou entre uma banda de 0,78 e 1,21, estabilizando-se ao final do dia em 1,02 francos/euro. A medida também foi responsável por dar uma verdadeira “chacoalhada” nas ações dos bancos suíços. O maior banco, o UBS, teve suas ações diminuídas em cerca de 12%, outros bancos como Credit Suisse e Julius Baer também incorporaram desvalorizações de 11% em suas ações.
A medida foi, na realidade, uma expansão do programa de valorização do franco que já havia sido iniciado em dezembro, quando o SNB instituiu remuneração negativa em seus títulos. Ela também acontece uma semana antes do Banco Central Europeu (BCE) iniciar seu programa de compra de títulos de dívida, fato que aumentaria a demanda pelo franco, tornando ainda mais cara a manutenção de um câmbio fixo entre as duas moedas. A decisão também evidencia o receio das autoridades suíças em face às recentes turbulências deflagradas pela Rússia ou mesmo que o BCE prolongue por maior tempo seu relaxamento monetário. Ou seja, a Suíça, que antes era um porto seguro dos investidores internacionais, agora passa a ser bem menos atrativa, aumentando a volatilidade dos capitais no mercado internacional, movimentos especulativos, entre outros fatores, afetando principalmente as economias emergentes. A economia internacional nos dá outro parecer desfavorável em 2015.