Por Yan Cattani, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC
A Argentina, um dos principais parceiros comerciais brasileiros – sobretudo como comprador de nossos bens manufaturados – apresentou a pior troca comercial entre os dois países em 6 anos. Registrou um volume total de negócios de apenas U$S 1,6 bilhão, considerando os dados em dólares FOB (do inglês, free on-board, correspondente aos gastos descontando-se custos de frete). Para efeito de comparação, em janeiro de 2014 esse volume havia sido de U$S 2,2 bilhões, ano em que as transações bilaterais já apresentaram queda de 24%.
O momento é propício ao governo brasileiro, portanto, para intensificação das relações comerciais com a Argentina. Em 2014, o saldo da balança comercial brasileira ficou negativo US$ 3,9 bilhões, o primeiro resultado negativo desde 2000, quando registrara déficit de US$ 0,7 bilhão. Ademais, o atual ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi embaixador brasileiro na Argentina durante 6 anos. Hoje, dia 10, está marcada uma visita do ministro na Argentina, com a presença das principais autoridades da economia do país.
Pelo lado argentino, o problema é um pouco mais grave. O país sofre problema crônico de falta de dólares. Diversos fornecedores de mercadorias brasileiras têm denunciado acordos com representantes vizinhos devido à falta de pagamentos. Como medida paliativa, a presidente Cristina Kirchner tem preferido realizar transações com a China, recentemente firmando com esse país acordos bilaterais no valor total de US$ 21 bilhões, o que dará fôlego às reservas internacionais argentinas. Em troca, cederá privilégios legais e burocráticos aos chineses.
Em parte, a medida é positiva para os exportadores brasileiros (e internacionais), que poderão receber finalmente sua conta. Porém, os tais “privilégios” nada mais são do que facilidades para investimentos chineses na América Latina, fato que poderá agravar a situação de hostilidade comercial entre a Argentina e seus vizinhos, pois ela poderá captar boa parte dos recursos que seriam investidos em outros países do Cone-Sul, especialmente no Brasil. Esse tema, inclusive, deverá ser um dos principais na pauta do ministro Vieira, na reunião. Mas enquanto o imbróglio não se resolve, a indústria brasileira embolsa cada vez mais prejuízos.