Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

O Brasil não consegue ser o destaque negativo entre os países emergentes, após a queda generalizada de suas moedas frente ao dólar e euro. A Índia é a líder mundial na perda de valor de sua moeda, a rúpia, com 20% de recuo desde o início do ataque especulativo em junho. A queda é, no entanto, algo como 33% se as cotações de 2010/11 são utilizadas na comparação. É uma "maxidesvalorização" da rúpia, como se costumava dizer das abruptas perdas de valor da moeda em países subdesenvolvidos. O impacto sobre expectativas é enorme entre os gerentes de compras do setor manufatureiro, cujo nível de confiança recuou ao grau de desalento de março de 2009, no auge da recessão.

O efeito inflacionário da queda da rúpia sobre os custos ameaça a economia indiana, sobretudo pelas importações de petróleo. É esperado um ajuste doloroso dos preços do combustível. O cenário indiano não difere do brasileiro. Contudo, a saída indiana da crise, via exportações, se dará pela porta dos manufaturados. No Brasil, ainda contamos com a vantagem nas exportações de commodities. O agronegócio continua bancando a renda salarial do Brasil urbano. Na Índia, a competição com manufaturados de terceiros países vai requerer dos exportadores indianos maiores sacrifícios de margens. Os ganhos na indústria continuarão espremidos, pois boa parte dos insumos industriais provém da China e até de países desenvolvidos. Analistas já começam a cortar para 4% suas projeções do PIB indiano para este ano e o próximo, ainda alto para o padrão brasileiro, mas cerca de metade do que foi na euforia daquela economia de mais de 1 bilhão de pessoas.

Ed.264