A explosão do consumo de bens duráveis nos últimos anos ocorreu em grande parte devido à utilização do crédito como ferramenta auxiliar do varejo. Desde o último pico considerável do crescimento do crédito para consumo, de 20% no final de 2010, o crédito somente desacelerou, atingindo 5,1% no final do ano passado. Como era de se esperar, o comércio seguiu a mesma tendência: 10,9% de aumento de vendas para 2,2% em 2014.
Os dados da oferta de crédito refletem, em grande parte, a atual dinâmica de menor procura por crédito do próprio consumidor. O indicador divulgado hoje pela Boa Vista SCPC mostrou novo recorde negativo na Demanda por Crédito do Consumidor, mostrando queda nos valores acumulados em 12 meses de 9,4%. Considerando os segmentos que compõe o indicador, mantida a base de comparação, a demanda por crédito nas instituições financeiras já cai 9,0%, enquanto para o segmento não-financeiro (que inclui sobretudo empresas ligadas ao setor varejista) a queda foi ainda mais intensa, de 9,7%.
Até fevereiro deste ano, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE mostrou um resultado negativo em 6,5% para as vendas do varejo eletroeletrônico, de eletrodomésticos e móveis. E analisando somente o mês de fevereiro, o resultado foi o pior para um mês desde o início da série, em janeiro de 2000. Frente a isso, em notícia divulgada hoje no jornal Valor Econômico, alguns grandes produtores de eletroeletrônicos e eletrodomésticos surpreenderam-se negativamente após colher os resultados do primeiro trimestre do ano, com quedas que variam de 5% até 9% frente ao mesmo período do ano anterior. Os executivos do setor esperavam vendas mais fracas, já que parte do crescimento do ano passado foi influenciado pela Copa do Mundo, mas o resultado decepcionou.
Um fato que vem sendo corroborado é que o consumidor tem sido mais cauteloso em tempos de incerteza econômica. Contribuem para a intensificação da queda na procura por crédito fatores como a alta das taxas de juros e inflação consistentemente elevada, que tem apertado os orçamentos domésticos. Assim, crédito e varejo, duas variáveis imbricadas, casadas no papel, juntas cresceram no passado. Agora, época de turbulências no cenário macroeconômico, apesar de não correrem o risco de se divorciarem, amargarão juntas uma séria crise conjugal.