Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
O Comitê de Política Monetária do Banco Central definiu ontem em 0,5 ponto percentual a alta da taxa básica de juros (Selic), que passou de 8,0% para 8,5%. Era o aumento esperado pelo mercado. A bolsa abriu hoje em alta, refletindo concordância com a linha adotada pelo Comitê. Porém, nem o BC nem o mercado estão seguros do que vem pela frente. O vetor inflacionário deixou de ser os preços em dólares das commodities e a força do consumo. A inflação daqui para frente será alimentada pelos repasses de câmbio desvalorizado sobre os custos de produção.
A tese de que o BC deve continuar aumentando juros é baseada na necessidade de se compensar a política fiscal frouxa com uma política de juros mais restritiva. Enquanto o governo pisa no acelerador fiscal, o BC teria que pisar fundo no pedal do freio. A despesa pública não conseguirá compensar a desaceleração do consumo privado, já em curso. Mas a curva de juros em alta será suficiente para desmotivar expectativas, especialmente quanto a novos investimentos. Portanto, o governo deixa para o BC a responsabilidade de combater a inflação pelo pior lado possível, que é freando mais a produção doméstica do que o consumo. O BC também já percebeu que está em uma armadilha recessiva.
Ed.224