Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

O anúncio, na semana passada, de reformas econômicas e sociais na China pelo novo homem forte Xi Jiping, e a notícia vinda do Banco Central da Índia de que este país estaria disposto a reformar e abrir seu setor financeiro, segundo entrevista do presidente do banco Raghuram Rajan, - ambas informações que agradaram em cheio ao mercado – dão medida da preocupação dos atuais mandatários dos BRICs de avançar mais rápido até um ambiente mais favorável aos negócios e ao empreendedorismo, em paralelo a tentarem colocar freio no gigantismo intervencionista estatal. Na China, não são ainda decisões tomadas, mas eles pretendem liberar preços nos serviços públicos e exigir das estatais que produzam resultados e dividendos. A agricultura, altamente controlada e com precários direitos à posse, muito menos à propriedade das terras em cultivo, passará por decisões liberalizantes. A redução da interferência do Estado na vida civil ganha corpo com a possível liberação do “direito” ao segundo filho de um casal, bem como aos cuidados de saúde por meio de hospitais privados.

Na Índia, país democrático e multipartidário, a ênfase recai no sistema econômico, conhecido por suas travas de controle burocrático. Lá, apenas cerca de 20% do sistema financeiro é de capitais privados locais. Os bancos estatais dominam três quartos do mercado. São significativos os empréstimos impagáveis ou de recuperação duvidosa. A nova legislação já começa a ser aprovada, facilitando a competição por estrangeiros, por cooperativas de crédito e por estruturas de acesso digital. Estas poderiam ajudar muito a melhorar os baixos níveis de bancarização indianos. A impressão de que todos estão se mexendo para remover travas ao crescimento é real. Esse tipo de competição saudável vai chamar a atenção de autoridades brasileiras. O próximo debate eleitoral poderá facilitar o convencimento de que fazer alguma mudança na direção certa não será suficiente para impressionar os ariscos investidores. Se todos se mexem, quem se mexe pouco não sai do lugar. Boa parte de nossa energia coletiva tem sido consumida no combate cívico à impunidade na política. Na China, a corrupção é assunto mais fechado. A recente condenação de um político de primeira linha – Bo Xilai – foi exceção. No Brasil, temos que passar do ordenamento repressivo para o construtivo. Um bom começo seria aprovar uma simplificação radical do manicômio tributário e adotar controle efetivo de gastos públicos.

Ed.315